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Filme pode levar catador de lixo do Rio ao palco do Oscar

Um dos quadros feitos durante a produção do documentário "Lixo Extraordinário" - Camila Giradelli
Um dos quadros feitos durante a produção do documentário "Lixo Extraordinário" Imagem: Camila Giradelli

01/02/2011 18h11

Por Sérgio Queiroz e Stuart Grudgings

RIO DE JANEIRO - Um catador de lixo brasileiro pode dividir o palco do Oscar com gente como Brad Pitt e Johnny Depp no final de fevereiro, depois de estrelar um documentário sobre o poder transformador da arte.

Em "Lixo Extraordinário", indicado ao Oscar de melhor documentário, Sebastião Carlos dos Santos e um grupo de outros trabalhadores num enorme aterro sanitário do Rio de Janeiro tornam-se fontes de inspiração do artista plástico Vik Muniz, que lança uma luz sobre uma atividade que a sociedade preferiria ignorar.

Usando fotos ampliadas deles mesmos e do próprio lixo que vasculham todos os dias em busca de objetos recicláveis, Santos e seus colegas ajudam Muniz a criar obras de arte belíssimas que são compradas por colecionadores internacionais por milhares de dólares.

Conhecido por seu apelido, Tião, o catador acaba viajando com Muniz para uma importante casa de leilões em Londres e cede às lágrimas quando uma foto, baseada em sua pose numa banheira descartada, é arrematada por 28 mil libras (45 mil dólares).

"Quando as pessoas me dizem que vou a Hollywood, não parece real", disse Tião, 32 anos, à Reuters. "Às vezes brinco com Vik - digo que, quando o relógio bater a meia-noite, vou perder meus sapatos e o mundo vai voltar para onde estava. Mas acho que agora não vai mais, acho que o mundo nunca mais será como antes."

Tião começou a ajudar sua família a catar lixo no aterro de Gramacho, em Duque de Caxias (RJ), quando tinha apenas 11 anos. Ele conseguiu comprar uma casa com o lucro obtido do leilão de arte.

"Muita gente ainda tem preconceito em relação ao trabalho dos catadores", disse Tião, acrescentando que são "recicladores".

"As pessoas veem o lixo como algo insignificante e invisível, e era assim que os catadores de lixo eram vistos também", afirmou ele, que tornou-se presidente da associação local de catadores de lixo.

"Este filme mostra que somos batalhadores, que sustentamos nossas famílias e fazemos um trabalho honesto."

Dirigido pela britânica Lucy Walker, "Lixo Extraordinário" ("Waste Land" em inglês) vem sendo descrito como o "Quem Quer Ser um Milionário?" dos documentários, mas enfrentará concorrência difícil na categoria de melhor documentário.

Seus quatro rivais incluem outro filme que foca a arte de rua - "Exit Through the Gift Shop", do artista britânico anti-establishment Banksy.

Tião enfrenta ainda outra barreira grande a seu sonho de chegar a Hollywood: a burocracia da imigração norte-americana.

Brasileiro radicado em Nova York, Vik Muniz, que também vem de família pobre, disse à Reuters que o pedido de visto de visitante aos EUA feito por Tião foi recusado, mas que ele ainda tem esperanças de que seja aprovado em tempo para a cerimônia de premiação que acontecerá no final de fevereiro.

"Estamos pensando em ir com Tião", disse Muniz à Reuters. "Ele é uma pessoa que é fundamental neste filme. Deveria realmente ser ele a receber o Oscar."