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"Cópia Fiel" traz trabalho premiado de Juliette Binoche

17/03/2011 11h03

 Melhor atriz no Festival de Cannes 2010, Juliette Binoche resplandece em "Cópia Fiel", novo filme do diretor iraniano Abbas Kiarostami.

Refletindo uma preocupação presente ao longo da própria obra de Kiarostami e de outros cineastas iranianos, bem como particularmente num trabalho recente do brasileiro Eduardo Coutinho ("Jogo de Cena"), "Cópia Fiel" constroi um admirável jogo de verdades e mentiras de um casal, formado por Juliette Binoche e o cantor lírico britânico William Shimell, estreando no cinema.

A verdadeira natureza do relacionamento destes dois é uma das chaves da descoberta da história, cheia de camadas, climas e evocações. Filmado em belíssimos cenários da Toscana, o filme é uma joia intimista, pulsante nos rostos de seus atores e em que o uso do discurso amoroso - oscilando entre o inglês, o francês e o italiano - é movido pelas chamas, ora amortecidas, ora vibrantes, da maturidade.

Nas primeiras cenas, vê-se o escritor James Miller (Shimell) chegando a uma cidadezinha italiana para uma palestra sobre seu novo livro sobre arte, que se chama justamente "Cópia Fiel". A partir de detalhes aparentemente banais, evidencia-se um dos temas do filme, sobre as contínuas interrupções do discurso, qualquer que seja. Como quando a apresentação de Miller é interrompida pelo toque de seu próprio celular e pela entrada de uma espectadora atrasada (Juliette Binoche) e seu filho (Adrian Moore).

O fato de que ela se senta entre os lugares reservados na plateia e que cochiche com o tradutor do livro, ao seu lado, parece evidenciar que ela é íntima do escritor. Mais tarde, uma conversa com o filho dá a pista de que, na verdade, ela procura essa intimidade. Quando Miller e ela finalmente se encontram, na loja de antiguidades dela, eles parecem na verdade estranhos que podem ou não querer se conhecer.

TRAILER DO FILME ''CÓPIA FIEL''

Sem querer estragar o jogo da narrativa, o relacionamento entre os dois atravessa vários climas, da tentativa de sedução ao compartilhamento de lembranças e sensações. É como se estes dois tivessem vivido algumas vidas diferentes e, em algumas, se encontrado, noutras, se perdido - sem que isso acarrete nada de sobrenatural, apenas experiências diversas ao longo dos anos.

Além da natureza instável do amor, "Cópia Fiel" toca outros temas - o primeiro deles, o que dá nome à obra, em torno da importância da discussão sobre o que é autêntico ou falsificado, e o valor, relativo ou absoluto, das muitas cópias encontradas no mundo da arte.

Nesta discussão, é envolvido inclusive um casal de passagem, (o famoso roteirista Jean-Claude Carrière e Agathe Natanson). Justamente quando procura engajá-los a favor de seus argumentos, a protagonista encontra no passante ocasional um intérprete ideal do que está, emocionalmente, tentando dizer a Miller - sem que este a entenda, independentemente da língua que ela fale.

Essas várias línguas que se sobrepõem são o símbolo vivo das várias camadas de incompreensão que podem se acumular entre as pessoas nesta Babel que não é só linguística, mas sobretudo emocional e amorosa. Os vários casais que aparecem no filme - os jovens noivos apaixonados que se sucedem para uma foto junto a uma estátua tida como portadora de sorte; o par maduro que conduz o filme; e uma dupla de velhinhos que eles encontram perto do final - todos se somam como retratos dos vários tempos do amor.

Essa maneira circular de expor seu tema é o grande segredo da magia do filme, que demonstra o engenho raro de sua direção e de sua dupla principal de atores, conduzindo-se esta espiral de sensações com inteligência e sutileza exemplares. Não é o tipo do filme que se vê todos os dias. Mas é certamente o tipo que se deseja imediatamente rever.

(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb