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Em "Ricky", François Ozon exibe um bebê extraordinário

31/03/2011 12h04

Toda mãe costuma achar que o seu filho é diferente de todos os outros. Mas Katie (Alexandra Lamy), a protagonista de "Ricky", tem todas as razões para isso. Afinal, o seu lindíssimo bebê, rosado, fofinho e de olhos azuis, tem nada menos do que... asinhas nas costas. O filme entra em cartaz apenas no Rio de Janeiro na sexta-feira. Em São Paulo, a estreia está prevista para dia 21.

A partir deste simples - ou nada simples - detalhe, fica instaurado o clima surreal que será perseguido ao longo deste filme um tanto inusitado do celebrado diretor francês François Ozon. Conhecido por trabalhos como "8 Mulheres", "O Tempo que Resta" e o recente "O Refúgio", Ozon aqui se arrisca como nunca em território novo, partindo de um conto da escritora Rose Tremain.

Diretor experiente, Ozon tenta equilibrar a estranheza da situação do bebê com fortes pitadas de drama realista. Assim, pinta com naturalismo o cotidiano da operária Katie, que se desdobra entre o trabalho estafante e o cuidado de uma outra filha de 6 anos, Lisa (Mélusine Mayance).

TRAILER DO FILME "RICKY"

Da mesma forma, traça-se um retrato um tanto cru do operário espanhol Paco (Sergi López), que chega à fábrica e entra num rápido relacionamento com Katie, do qual resultará o bebê extraordinário.

Um toque meio sinistro surge a partir da contradição entre a carinha perfeita do bebê e seu choro insuportável, dia e noite - cuja razão, afinal, está em misteriosas manchas nas costas que causarão inclusive um atrito entre o casal.

Evidentemente, o filme de Ozon pretende ir além de um conto grotesco em torno de um bebê exótico. Embora a loucura de toda a situação vá se desenvolvendo pouco a pouco - afinal, como manter uma coisa dessas em segredo na sociedade do espetáculo? - é nítido que a história pretende explorar um pouco além das aparências.

Será que muda tanto assim a natureza do amor de uma mãe por um filho fora do comum? Como um casamento pode absorver uma situação dessas? Em vários momentos, como na vida real, quem parece lidar melhor com as indagações inevitáveis dessa situação estranha é mesmo a pequena Lisa - que, do alto do bom senso dos seus 6 anos, aceita as coisas como são e segue em frente.

(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb