Tarcísio Meira volta ao cinema como um malandro na comédia "Não se Preocupe"
No conjunto de filmes dirigidos por Hugo Carvana, a figura do malandro tem um papel central, um papel carinhoso, na verdade. Desde sua estreia em 1973, com "Vai Trabalhar Vagabundo", até o mais recente "Casa da Mãe Joana", o diretor teceu um painel de tipos da sociedade brasileira - especialmente a carioca, incluindo também artistas e boêmios ("Bar Esperança", 1982).
Não é de se surpreender que, em seu mais recente longa, "Não se Preocupe, Nada Vai Dar Certo", os protagonistas sejam uma dupla de atores, pai e filho, que ganham a vida excursionando pelo Brasil, e engordam o salário com pequenos golpes do patriarca.
Tarcisio Meira e Gregório Duvivier interpretam essa dupla que, no começo do filme, mambemba pelo Nordeste brasileiro, apresentando-se, muitas vezes, em teatros improvisados. Ramon (Meira), o pai, é o irresponsável que coloca o filho, Lalau (Duvivier), em frias. Este, por sua vez, parece ser um comediante de talento, cuja vida está presa aos golpes do pai.
Se num primeiro momento, o roteiro de Paulo Halm ("Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos") concentra-se na trama cômica e na dependência mútua entre pai e filho, com o tempo, a história se transforma numa trama policialesca, envolvendo corrupção e um crime misterioso.
TRAILER DO FILME ''NÃO SE PREOCUPE, NADA VAI DAR CERTO''
É uma guinada na narrativa que enfraquece o que, até então, não era muito forte, mas se sustentava aos trancos e barrancos graças à química entre Tarcísio e Duvivier. A partir de então, inconsistências e o tom de investigação de novela desviam as atenções.
Ainda no Nordeste, Lalau conhece Flora (Flávia Alessandra), jornalista e relações públicas que armou um workshop com um famoso guru indiano, no Rio. Quando este é preso, ela contrata o jovem comediante para passar-se pelo sujeito, promovendo um workshop para enganar ricos ávidos por receber lições de como enriquecer ainda mais. Entram também em cena Carol (Ângela Vieira), empresária com aspirações políticas, e seu marido, Rodolfo (Herson Capri).
A volta de Tarcísio ao cinema brasileiro, duas décadas depois de "Boca de Ouro" (e uma refilmagem deste nos EUA em meados dos anos de 1990), merecia algo um pouco melhor.
O carisma do ator e sua presença na tela, no entanto, não são suficientes para salvar o filme de sua trama mal-resolvida. A dupla que ele faz com Duvivier é ótima, por isso mesmo, eles mereciam uma trama mais à altura de seu talento.
(Alysson Oliveira, do Cineweb)
* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb
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