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Em Veneza, filme japonês "Himizu" retrata o pós-tsunami

Cineasta Sion Sono, de "Himizu", ao lado dos atores Shota Sometani e Fumi Nikaidou no Festival de Veneza (06/09/2011) - Reuters
Cineasta Sion Sono, de "Himizu", ao lado dos atores Shota Sometani e Fumi Nikaidou no Festival de Veneza (06/09/2011) Imagem: Reuters

Mike Collett-White

De Veneza

06/09/2011 13h45

"Himizu", filme japonês exibido no Festival de Veneza, conta uma história de abusos, violência e perda da juventude, tendo como pano de fundo a devastação do terremoto e do tsunami de 11 de março no norte do Japão.

O diretor Sion Sono, conhecido por seus filmes ásperos e anárquicos, inseriu os fatos reais em um roteiro que ele havia acabado de escrever quando a catástrofe aconteceu.

"Cada cena mudou drasticamente", disse ele à publicação Variety antes da estreia mundial de "Himizu" no festival italiano, nesta terça-feira. "O mangá original não continha qualquer esperança, mas depois do 11 de março achei que não deveria fazer um filme sem esperança. Senti que precisava transmitir isso no filme."

A narrativa é entremeada por planos gerais de cidades devastadas e prédios retorcidos pelo tsunami, o que leva o desastre à tela grande menos de seis meses depois da sua ocorrência.

A urgência dessas imagens, a atuação visceral dos dois protagonistas adolescentes e traumatizados e a trilha sonora que inclui o "Réquiem", de Mozart, contribuíram para que o filme fosse muito aplaudido ao final da sessão para a imprensa.

"Himizu" se baseia em um mangá de Minoru Furuya, lançado há mais de dez anos.

A trama gira em torno do estudante Yuichi Sumida, que é abandonado pela mãe e sofre agressões do pai, mas sonha em viver uma vida normal.

O garoto mora numa cabana à beira de um lago, onde aluga barcos para visitantes. Ao seu lado, uma pequena e excêntrica comunidade vive em tendas improvisadas, possivelmente porque suas casas foram destruídas.

Uma colega, Keiko Chazawa, se apaixona por ele e tenta salvar sua vida. Keiko é uma rara fagulha de inocência e otimismo em um mundo onde o amor e a esperança são esmagados desde cedo.

Os pais de Keiko constroem uma forca para ela, que eles pintam e decoram com luzes coloridas, encorajando-a a tirar a própria vida. Sumida também ouve sempre do pai que nunca deveria ter nascido, até que ele finalmente chega ao ponto de cometer um assassinato.

Apesar desse retrato sombrio da juventude, e dos diálogos interrompidos por gritos e lágrimas, Sono insiste que a mensagem é de esperança. "Toda a comunidade japonesa sente que não tem escolha senão a esperança, porque a situação é ruim demais", afirmou ele à Variety. "Antes de eu escrever o roteiro original, nem eu tinha tanta esperança, mas isso mudou drasticamente."

"Himizu" é um dos 23 filmes na competição oficial de Veneza. O 23o deles, um "filme-surpresa," foi anunciado na terça-feira. Trata-se de "Ren Shan Ren Hai" ("mar de gente," em tradução livre), dirigido por Cai Shangjun.