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Com Eduardo Moscovis, "180°" embaralha narrativa com idas e vindas no tempo

Alysson Oliveira

Do Cineweb

15/09/2011 11h55

No drama "180º", dirigido por Eduardo Vaisman, a trama se revela aos poucos. Os primeiros minutos começam a estabelecer não apenas uma tensão entre o trio de protagonistas, mas também uma certa confusão proposital, que será esclarecida em seu devido momento.

As idas e vindas da história, escrita por Claudia Mattos, vão, aos poucos, montando um quebra-cabeças.

A forma como o diretor articula essas peças -- junto com a montadora Ana Teixeira -- dá fôlego à narrativa que chega bem perto de explicações desnecessárias, mas, na boa parte do tempo, confia na inteligência do público para resolver as armadilhas e deduzir os encontros e desencontros dos personagens que estão ao centro.

Eles são todos ex-jornalistas que, no presente, por motivos diversos, trabalham em outras profissões. Russell (Eduardo Moscovis) e Anna (Malu Galli) eram namorados quando Bernardo (Felipe Abib) começou a estagiar no jornal onde trabalhavam.

TRAILER DO FILME ''180º''

Mais tarde, Russell se muda para uma fazenda de laranja no interior do Rio. Anna abre uma editora e publica um livro de contos de Bernardo, que fica rico quando uma emissora de televisão o transforma em série.

Quando o filme começa, o trio está nesse ponto. Anna namora Bernardo, que acaba de ganhar um bom dinheiro pela adaptação, e vão visitar Russell. Supostamente, todos são amigos, mas uma tensão paira no ar. Afinal, eram um trio de amigos inseparáveis e agora Bernardo namora a ex de Russell.

O primeiro elemento que mostra a desestabilização do grupo ocorre quando Bernardo revela ao amigo que está sendo chantageado porque a ideia para seu livro partiu de uma caderneta de anotações que ele achou por acaso.

Ele nunca contou isso para Anna, que, por sua vez, inventou uma história bem parecida como peça de marketing para o lançamento da coletânea de contos. E a tal mentira funcionou. "180°" anda no campo das aparências, das falsas verdades que põem em xeque o que foi dito. Em quem acreditar? Qual dos três fala a verdade?

As idas e vindas do roteiro elucidam o passado e a trama engenhosa mantém sua coerência interna. O trio de atores é empenhado e dá credibilidade a seus papeis. Mas, ao final, ainda parece faltar uma fagulha.

As reviravoltas, como as desestabilizações dos personagens, parecem muito calculadas para surtir um efeito. É como se ir e vir no tempo fosse a razão de ser do filme, e não a consequência do impulso narrativo.

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb