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Neta de Jorge Amado dirige adaptação irregular de "Capitães da Areia"

06/10/2011 08h40

SÃO PAULO (Reuters) - É curioso que um dos livros mais famosos de Jorge Amado, "Capitães da Areia", publicado em 1937, só tenha sido adaptado para o cinema em 1971, pelo norte-americano Hall Bartllett. No final dos anos de 1980, recebeu uma adaptação para a televisão dirigida por Walter Lima Junior, e só agora ganha uma versão nacional para o cinema, sob a direção de Cecília Amado.

O filme, que estreia em todo o país - exceto no Rio, onde participa do Festival que começa na quinta-feira -, tem roteiro assinado pela própria diretora, neta do escritor morto em 2001, cujo centenário de nascimento se comemora no próximo ano, e por Hilton Lacerda ("Estamos Juntos"), que deixa de lado alguns dos tons mais fortes dessa obra de Jorge Amado.

O romance faz parte da primeira fase do escritor e é um livro de denúncia social, com vários subtextos políticos. No filme, eles são bastante discretos e podem vir mais de uma boa vontade de quem vê o filme do que da obra em si.

A ação é situada, como no original, na década de 1930 - mas, percebe-se, não mudaram muitas coisas na vida dos meninos de rua desde aquela época. Há algumas melhoras, é claro, com a ajuda de ONGs com projetos sociais que, aliás, foram onde a diretora foi buscar seu elenco de jovens estreantes, como Jean Luis Amorim, Robério Lima e Ana Graciela, o trio de protagonistas.

Uma espécie de Robin Hood soteropolitano, Pedro Bala (Amorim) é o líder de um grupo de garotos de rua que vivem por conta de pequenos furtos em Salvador. O grupo tem suas regras internas, assim como um código moral e de conduta próprio.

O filme é eficiente nos momentos em que lida com o grupo como um todo. Mas, quando tenta delinear os dramas individuais de personagens como Pedro Bala, Professor (Lima) e Dora (Ana Graciela), perde um pouco o foco e a força. As histórias de cada um ficam um tanto pulverizadas e apressadas, muitas vezes sem um tempo orgânico para acontecerem.

A boa fotografia de Guy Gonçalves - também creditado como codiretor - exalta o colorido da capital baiana, que vem também das ruas, das festas religiosas e da natureza. O grande cuidado, nesse sentido, é para que o filme não se transforme em "macumba para turista" - em alguns casos, literalmente.

Nos últimos anos, a obra de Amado tem encontrado na televisão um veículo mais apropriado do que no cinema - exceto por "Dona Flor e seus Dois Maridos" (1976), de Bruno Barreto.

Numa telenovela ou uma minissérie, é mais fácil dar conta das centenas de páginas e personagens de romances como "Tieta" e "Gabriela." "Capitães da Areia" é uma das obras sucintas, mas, no cinema, carece um pouco da força que há no livro, em que os personagens são apaixonantes. Aqui, quando muito, empolgam.

(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb