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"Gigantes de Aço" investe na relação pai e filho

20/10/2011 10h54

SÃO PAULO (Reuters) - Sucesso de bilheteria nos Estados Unidos, desbancando promessas como a refilmagem de "Footloose", a aventura "Gigantes de Aço" pode parecer simples, mas tem DNA poderoso. Produzido por Steven Spielberg, estrelado por Hugh Jackman e dirigido por Shawn Levy, o filme é baseado em um conto ("Steel," de 1954) de Richard Matheson, celebrado autor de livros e roteiros de fantasia, terror e ficção científica.

O escritor é conhecido por colocar pessoas comuns em situações excêntricas. Ele contribuiu para a série "Além da Imaginação" e escreveu "Eu Sou a Lenda", base dos filmes "Mortos que Matam"(1964, com Vincent Price), "A Última Esperança da Terra" (1971, com Charlton Heston) e, finalmente, "Eu sou a Lenda" (2007, com Will Smith). Foi de Matheson também a ideia do primeiro filme de Spielberg, "Encurralado" (1971).

Em "Gigantes de Aço", no entanto, a genética dos criadores mudou os rumos do filme. Em um futuro próximo, 2020, os esportes de luta foram banidos pela intensa violência que apresentavam. Isto porque as pessoas ficaram tão afoitas para ver sangue nos ringues que, no fim, precisaram substituir os lutadores por robôs.

É neste contexto que habita Charlie Kenton (Hugh Jackman), um ex-boxeador azarado, às voltadas com máquinas de briga sucateadas para conseguir sobreviver.

A situação dele piora quando morre a mãe de seu filho Max (Dakota Goyo), criança de 11 anos, que Charlie nunca quis conhecer. Porém, como a guarda do garoto é disputada pelos tios ricos, Debra (Hope Davis) e Marvin (James Rebhorn), ele vê aí uma oportunidade de negócio: uma bolada pela custódia.

O esquema é aceito por Marvin, com a condição de que o pai passe o verão com o garoto para que consiga viajar tranquilo com a esposa Debra.

Seria uma situação chocante sob diversos pontos de vista, mas o insólito desenvolvimento desse relacionamento é bem-trabalhado por um roteiro que aposta no humor ácido, pelo menos a princípio, para integrar os personagens. Chega a ser assustadora a naturalidade com que o jovem ator Dakota Goyo diz "se me vendeu, pelo menos mereço a metade do pagamento" - que depois se transforma em piada.

Em outra cena que demonstra o desleixo do pai com o filho, Max cai de um penhasco dentro de um ferro velho e é salvo por um robô, que estava por ali semienterrado. O rapaz se apega a seu salvador, que recebe o nome de Atom, e força o pai a colocá-lo em lutas, mostrando que um campeão pode vir de qualquer lugar, até mesmo do entulho. Atom passa a ser a força motriz para a relação familiar dar certo.

John Gatins, Dan Gilroy e Jeremy Leven, que assinam a adaptação da história e o roteiro, mantêm a complexidade moral de pessoas comuns em situações bizarras (um dos temas de Matheson). No entanto, introduzem novos elementos, como a relação entre o garoto e o pai (tão cara a Spielberg) e um humor condescendente, do qual o diretor canadense Shawn Levy (de "Uma Noite Fora de Série") também gosta.

Destaque também para as referências à franquia "Rocky - Um Lutador," em especial à última luta, quando o campeão Zeus (pai de Apollo) é desafiado por Atom. Aliás, as lutas são outro ponto forte do filme, cujos movimentos foram capturados pela produção a partir de lutadores reais, supervisionados pelo astro do boxe Sugar Ray Leonard.

Em seus devaneios futurísticos (muito embora o futuro dele fosse a década de 1970), Matheson mostra um mundo cada vez mais desumanizado. "Gigantes de Aço," no entanto, tem como mensagem o oposto. Piadista, Levy disse que seu filme se passa em 2020 porque não queria uma ficção científica extrema.

Em entrevista, chegou a dizer: "Queria o mundo mais familiar (para os espectadores). Um aparelho de celular pode mudar em 10 anos, mas o jantar vai continuar parecendo um jantar."

Como vem acontecendo cada vez mais, o filme circula também em versão dublada.

(Por Rodrigo Zavala, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

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