Topo

Filmes árabes destacam ano turbulento e redentor em festival

24/10/2011 15h27

Por Regan Doherty

DOHA (Reuters) - A "Primavera Árabe" de levantes pró-democracia está presente com destaque, tanto diretamente quanto de modo mais sutil, nos trabalhos escolhidos para figurar na terceira edição anual do Festival de Cinema Doha Tribeca, que começa nesta semana na capital do Catar.

Lançado em 2009 neste pequeno país do Golfo Pérsico, o festival expõe o trabalho de cineastas árabes que, neste ano, puderam se inspirar nas grandes transformações políticas em curso em seus próprios países.

Entre os destaques estão "Rouge Parole", ambientado no meio do tumulto da Tunísia revolucionária. O filme relata a deposição do presidente e os primeiros passos do país rumo à democracia.

"On the Road to Downtown", de Sherif El Bendary, acontece na praça Tahrir, no Cairo, e acompanha as vidas e esperanças de seis pessoas ligadas de maneiras diferentes ao que acontece no centro da cidade.

"Os documentários selecionados trazem reflexões sobre as transformações políticas. Mas também temos vários filmes que tratam de mundos privados e aspectos mais sutis da experiência do Oriente Médio, algo que nem sempre é evidente para observadores políticos", disse a programadora árabe chefe do festival, Hania Mroue.

"The Virgin, the Copts and Me" trata de um assunto sobrenatural: a aparição da Virgem Maria a milhões de egípcios em um videoteipe em que apenas os verdadeiros fiéis conseguem divisar sua imagem.

"É um filme muito importante para o Egito pós-Revolucionário porque lança luz sobre a comunidade copta, coisa que alguns anos atrás seria tabu", disse Mroue.

O título argelino "Normale" descreve o que aconteceu nas ruas da Argélia enquanto eram depostos ditadores nos países vizinhos.

"Yearning", de Lina Alabed, trata das vidas das mulheres em Damasco e como elas abordam a liberdade pessoal em uma sociedade dominada pelos homens.

As mulheres também estão ao centro de dois documentários esportivos que tratam dos tabus em torno de mulheres e boxe na Tunísia ("Boxing with Her") e da experiência de um time de basquete feminino no norte do Iraque ("Salaam Dunk").

O festival terá também a pré-estreia mundial de "Black Gold", com Antonio Banderas, uma história que acontece nos anos 1930, no início do boom petrolífero, e que é a primeira produção cinematográfica de peso rodada no Catar.

"Crayons of Askalan" recria a história marcante do artista palestino Zuhdi al Adawi, encarcerado aos 15 anos no notório presídio israelense de Askalan.

O Catar lançou o festival como parceria entre o Instituto Doha de Cinema e a Tribeca Enterprises, que opera o Festival de Cinema Tribeca, de Nova York.

Criado com o intuito de injetar nova vida em Manhattan após os ataques de 11 de setembro de 2001 que destruíram o World Trade Center, o Festival Tribeca já virou vitrine de filmes internacionais com viés político.

Os organizadores disseram que o evento em Doha visa fazer a mesma coisa, usando o festival para lançar luz sobre o cinema árabe.

"Não queremos focar apenas os grandes nomes, queremos dar espaço para vozes novas, especialmente da região", disse Mroue.