Com elenco estrelado, Steven Soderbergh dirige seu primeiro filme-catástrofe em "Contágio"
SÃO PAULO (Reuters) - Steven Soderbergh é aquele tipo de diretor que já tem tudo - Oscar (por "Traffic", 2000), fama e dinheiro, especialmente por ter se tornado um produtor com faro para sucessos de bilheteria e amizades com grandes astros, como Matt Damon, Julia Roberts e Brad Pitt, que estrelaram "Onze Homens e um Segredo" (2001) e suas continuações.
Possivelmente foi apenas por capricho, ou quem sabe, vontade de experimentar, que ele topou conduzir "Contágio," seu primeiro filme-catástrofe, sobre a expansão de um vírus letal e misterioso, causando milhares de mortes, pânico e mobilização das autoridades nos quatro cantos do planeta.
O novo trabalho não acrescenta nada à sua carreira, exceto alguns milhões de dólares na conta, façanha que pode ser atribuída à grande esquadra de astros a bordo.
O elenco consagrado e internacional é, aliás, o maior dividendo. Estão na tela o mesmo Matt Damon que já estrelou vários filmes de Soderbergh, incluindo o recente "O Desinformante" (2009), Laurence Fishburne ("Matrix"), Jude Law, Gwyneth Paltrow, a inglesa Kate Winslet e a francesa Marion Cotillard.
Gwyneth interpreta a executiva Beth Emhoff, que se sente mal no aeroporto de Chicago e se torna uma das primeiras vítimas do vírus, que surge também na China - onde a executiva esteve recentemente. A morte de Beth coloca em quarentena sua família, incluindo o marido, Mitch (Matt Damon), e os filhos, em Minneapolis.
Por algum motivo, Mitch é imune ao vírus, o que vai lhe dar algum destaque na história. Ele é, aliás, um dos poucos personagens a ganhar um pouco mais de tempo na tela, além dos médicos e autoridades que tentam combater o vírus.
O fato de que sejam estes personagens, e não propriamente as vítimas e suas famílias, que ocupem muito da história, não raro com providências burocráticas, é, aliás, um dos problemas do filme para gerar empatia com o público.
TRAILER DE "CONTÁGIO"
Em todo caso, desperta simpatia a especialista médica Erin Mears (Kate Winslet), que viaja aos locais de incidência a mando de seu chefe, Ellis Cheever (Laurence Fishburne), sugerindo medidas de contenção.
A carismática Marion Cotillard (vencedora do Oscar de melhor atriz por "Piaf - Um Hino ao Amor") não tem a mesma sorte, sendo pouco vista como Leonora Orantes, uma especialista da Organização Mundial de Saúde.
Embora a história - surgida do argumento e roteiro do produtor Scott Z. Burns - já tenha claramente um supervilão neste vírus rápido e mortal, também conta com um personagem dúbio na figura do jornalista e blogueiro Alan Krumwiede (Jude Law).
Enfeado por uma prótese dentária e assumindo um sotaque estranho, ele ganha notoriedade com teorias da conspiração, ganhando milhões de leitores em seu blog, em que sugere medidas como a medicina natural para controlar a epidemia.
Sem dúvida, a qualidade técnica da produção é notável. Soderbergh procura o realismo, não recuando diante de algumas imagens capazes de revirar alguns estômagos - inclusive uma autópsia, mostrada com riqueza de detalhes. Telas de computadores, gráficos, tabelas, cenas de deslocamento de tropas militares, contribuem para a criação de um clima de neurose coletiva.
Apesar disso, o filme soa estranhamente frio. Uma das razões é a falta de heróis por quem torcer - até um dos médicos que mobilizava a simpatia morre no meio do caminho. Matt Damon, que cumpre o papel na primeira metade do filme, some um bom tempo e só volta no final.
Soderbergh preferiu manter o protagonismo da história no medo e no caos e nem assim revela convicção suficiente. Parece ter dirigido no piloto automático.
(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)
* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb
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