Em "Os 3", Nando Olival encaixa triângulo amoroso de jovens amigos em reality show
SÃO PAULO (Reuters) - O que há para se dizer sobre triângulos amorosos que já não foi dito no cinema? Do clássico "Jules e Jim", de François Truffaut, aos mais recentes "Os Sonhadores", de Bernardo Bertolucci, e "E Sua Mãe Também", de Alfonso Cuarón - todos exploram as dores e alegrias de um trio de amantes. O resultado, quase sempre, inclui amizades interrompidas, corações partidos e sexualidades balançadas. Por isso mesmo, "Os 3", de Nando Olival, parece um filme que já foi visto antes.
Os três do título são Camila (Juliana Schalch), Cazé (Gabriel Godoy) e Rafael (Victor Mendes), que se conhecem quando se mudam para São Paulo, onde cursarão faculdade, e passam a dividir um apartamento enorme, mas um tanto precário. De tanto passar o tempo juntos - em casa e na escola -, ganham o apelido de "os três".
Quando o trio cai na mira de uma empresa, torna-se peça de marketing ao participar de uma espécie de reality show, no qual tudo o que eles usam no apartamento é vendido pela internet e são acompanhados o tempo todo por uma audiência que cresce à medida em que as peripécias amorosas e sexuais do grupo ficam mais evidentes.
O longa transita entre a sexualidade pudicamente oscilante dos personagens e a crítica satírica ao mundo contemporâneo, no qual tudo é um objeto à venda, desde que seja feito o markerting apropriado. Esse é o maior acerto do filme, mas acaba diluído em meio às reconfigurações de casais.
Nando Olival, que em 2001 dirigiu "Domésticas - O Filme", ao lado de Fernando Meirelles, faz em "Os 3" um cinema de boutique, no qual tudo tem o seu lugar certo. No apartamento do trio - uma espécie de loft rústico -, nada parece real, tudo tem cara de direção de arte, daquelas que são excessivamente pensadas para dar um ar descolado aos personagens.
Com uma ambição um tanto maior do que seu poder de alcance, o diretor, que assina o roteiro com Thiago Dottori, mira para diversos lados - desde a crônica de amor até uma crítica sócio-cultural de nossos tempos de consumo em massa e reality shows. Exatamente por conta dessas idas e vindas em temas e registros, "Os 3" se torna esquizofrênico, sem nunca aprofundar de verdade qualquer um de seus temas.
Olival e sua equipe apontam para um tema um tanto recorrente no cinema - especialmente no contemporâneo. Qual o limite entre a realidade e a representação? O que Camila, Rafael e Cazé fazem é real ou apenas a encenação para vender os produtos? Na vida, é possível se assumir como um personagem? Qual o limite disso? São questões um tanto complexas, que não encontram o devido espaço nesse filme que, por sua vontade de ser descolado, chega a lembrar "Malhação".
(Alysson Oliveira, do Cineweb)
* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb
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