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Lázaro Ramos vive anestesista em crise em "Amanhã Nunca Mais"

Maria Luísa Mendonça e Lázaro Ramos em cena de "Amanhã Nunca Mais", de Tadeu Jungle - Divulgação
Maria Luísa Mendonça e Lázaro Ramos em cena de "Amanhã Nunca Mais", de Tadeu Jungle Imagem: Divulgação

10/11/2011 12h20

SÃO PAULO (Reuters) - O tempo é uma questão relativa em "Amanhã Nunca Mais", drama que marca a estreia na ficção do apresentador e videomaker Tadeu Jungle.

No filme, o protagonista é o anestesista Walter (Lázaro Ramos), que está vivendo sob pressão, tanto no trabalho quanto em casa. No meio disso, tem que cumprir uma missão que parece simples, mas é entravada por uma série de obstáculos: levar um bolo de aniversário à festa de sua filha, no meio de uma São Paulo de trânsito sempre parado.

No hospital, os problemas abundam - faltam equipamentos de trabalho e materiais. Walter vive se desentendendo com um médico (Carlos Meceni) e tem de aturar o colega chato (Milhem Cortaz). Em casa, a sogra (Vic Militello) também não dá folga - como na temporada de praia, quando pede para ele passar protetor solar nas costas dela enquanto sua mulher (Fernanda Machado) flerta com um desconhecido.

Decididamente, a vida não está fácil para Walter. Especialmente por que ele vive cercado de figuras caricatas que beiram o grotesco. Algumas delas, de vez em quando, até ultrapassam a barreira. Nenhum personagem em "Amanhã Nunca Mais" consegue ser realmente humano. São todos panelas de pressão prestes a explodir. Não se atinge, no entanto, a crítica social de, digamos, um Sergio Bianchi. São personagens insuportáveis por conta de uma espécie de prazer sádico.

A trama é simples e não vai além de Walter chegar em casa com o bolo inteiro. Poderia ser até um videogame - uma tarefa, vários obstáculos, ele cumpre a meta e ganha a mocinha. Os personagens não soariam estranhos no mundo do videogame, pois sua única razão de existir (exceto a mulher do protagonista) é atrapalhar, desviar Walter de sua tarefa.

São tipos até bizarros que, isoladamente, causam um estranhamento. Todos juntos, quase ao mesmo tempo, têm resultado reverso. Eles anestesiam - para usar um verbo que faça uma ponte com o protagonista - o público, porque se tornam apenas um desfile de tipos esquisitos sem muita função.

O efeito que o diretor - que assina o roteiro com Marcelo Müller e Mauricio Arruda - pretende extrair disso é outra questão. Talvez, na visão dele, de perto ninguém seja normal, o que, no fundo, pode até ser verdade. Mas em "Amanhã Nunca Mais" a lente de aumento chega perto demais dos personagens e dá dimensões gigantescas ao exotismo de cada um deles. Em outras palavras, falta um respiro ao filme. Falta um ser humano em meio ao caos estranho que é a São Paulo do longa.

Há, claro, licenças poéticas, por assim dizer, no trajeto do personagem, que anda por vias não tão próximas, mas que parecem se cruzar. Há também a necessidade de suspender a lógica. Afinal, por que a mulher de Walter foi encomendar um simples bolo de aniversário numa doceira tão longe da casa dela? A explicação da personagem é que em São Paulo essa era a única que fazia bolo com decoração roxa (!).

Lázaro é esforçado e competente, mas tem de lidar com limitações do personagem e das situações. Até a catarse final não faz muito sentido. O longa transita entre o humor negro e o drama por um caminho tortuoso, no qual joga personagens e situações no acostamento - como um motoqueiro (Luis Miranda), uma exótica conhecida de Walter (Maria Luísa Mendonça) e uma travesti (Paula Braun, que também faz uma enfermeira).

Ainda assim, há coisas interessantes em "Amanhã Nunca Mais", como a sequência dos créditos iniciais e a fotografia noturna de São Paulo - assinada por Ricardo Della Rosa -, mas que se perdem no mar de referências e exageros.

O longa é uma tentativa de fazer algo na linha de "Depois de Horas", do Martin Scorsese, mas para um filme assim funcionar é preciso o mínimo de empatia. O longa tem menos de 80 minutos, mas, às vezes, parece mais.

(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)

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