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Em clima de terapia de grupo, Eduardo Coutinho mostra as músicas da vida de 18 personagens em "As Canções"

Em "As Canções", novo documentário de Eduardo Coutinho, pessoas comuns cantam as músicas que marcaram suas vidas e contam as histórias que as ligam às canções  - Divulgação
Em "As Canções", novo documentário de Eduardo Coutinho, pessoas comuns cantam as músicas que marcaram suas vidas e contam as histórias que as ligam às canções Imagem: Divulgação

08/12/2011 09h53

SÃO PAULO (Reuters) - O documentarista Eduardo Coutinho gosta de investigar os avessos. Prefere os bastidores às fachadas. Dos apartamentos de um prédio em Copacabana ("Edifício Master"), à religião ("Santo Forte"), à velhice ("O Fim e o Princípio"), aos sonhos de sindicalistas dos anos 1970/1980 ("Peões") e ao próprio teatro ("Moscou"), muitos temas passaram pelo crivo de sua curiosidade, tão reveladora quanto respeitadora da intimidade. Um verdadeiro paradoxo, mas Coutinho é isso mesmo. A antítese do reality show.

Seu foco mais recente é o cancioneiro brasileiro, não em si, mas as músicas que ficam na memória e sintetizam os momentos mais dramáticos da vida das pessoas. No filme "As Canções", que estreia em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília nesta sexta-feira (9), são 18 personagens, de um total de 42 filmados.

Todos deviam estar sozinhos e sentados diante da câmera - essa era a regra do diretor. Mas ele mesmo a transgride, deixando no filme alguns momentos em que os personagens se levantam e ficam em cena, às vezes já se despedindo, porque é aí que se revelam mais significativos.

O campeão de escolhas musicais é, como o diretor já esperava de antemão, Roberto Carlos. Coutinho pensou um dia em fazer um filme só sobre as músicas do cantor e compositor, mas desistiu - as negociações dos direitos seriam infernais. Aliás, "As Canções" é o primeiro filme de Coutinho que exige esse tipo de negociação.

Como sempre, a grande atração é humana. E o melhor está na história que cada um conta para explicar porque aquela determinada canção é a trilha de sua vida. Como o homem que canta "Esmeralda", de Carlos José, e chora lembrando da mãe de 85 anos - que, ao contrário do que se poderia imaginar, está viva. O mesmo homem, pouco depois, comenta o choro, para ele mesmo, inexplicável.

Outra mulher reconstitui um complicado caso de amor, que a levou a seguir o amado, suspeito de traição, num táxi - e foi aconselhada pelo taxista a não flagrá-lo ali. Um fã de Jorge Ben Jor utiliza a câmera para recordar as várias etapas de sua complicada e afinal feliz paixão por uma certa Jacira e pede, no fim, para louvar a Deus. Uma bela mulher encerra o filme, cantando "Retrato em Branco e Preto", de Chico Buarque, chave do epílogo de sua longa e tumultuada história de amor.

Não há grandes peripécias a contar nestas vidas, todas muito comuns e parecidas com as da plateia que as verá. Por isto é que uma sessão de "As Canções" terá tudo para se parecer com uma silenciosa terapia em grupo, em que ninguém precisa contar nada, só acompanhar no escuro. Cada um com a sua canção, ou canções, na cabeça, quem sabe concordando com algumas ouvidas na tela.

Coutinho mesmo, que jurou em entrevistas que não tem a música de sua vida, é ouvido cantarolando "Fascinação" junto com uma de suas personagens. O que certamente também não estava no script.

(Neusa Barbosa, do Cineweb)

TRAILER DE "AS CANÇÕES"