Topo

Irã adverte contra sucesso de filme "A Separação"

Cena do filme ""A Separação", de Asghar Farhadi  - Divulgação
Cena do filme ''A Separação", de Asghar Farhadi Imagem: Divulgação

Robin Pomeroy e Hashem Kalantari

17/01/2012 13h19

O governo iraniano adotou uma postura de cautela nesta terça-feira sobre o sucesso do filme "A Separação", que ganhou o Globo de Ouro de melhor filme em língua estrangeira, dizendo que filmes favorecidos pelos críticos mostram uma versão distorcida da República Islâmica.

Enquanto os fãs do cinema iraniano ficaram emocionados ao ver o diretor Asghar Farhadi receber o prêmio das mãos de Madonna em uma cerimônia em Los Angeles no domingo, o governo de Teerã, que mantém um rígido controle sobre a produção cinematográfica, mostrou menos entusiasmo.

"É preciso sempre olhar esses festivais com discernimento", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Ramin Mehmanparast, quando instado a comentar o filme, que também ganhou o Urso de Ouro no Festival de Cinema de Berlim e é cotado para o Oscar.

"Algumas vezes vemos que os que organizam esses festivais dão prêmios valiosos a filmes cujo tema central é a pobreza e as dificuldades de um povo. Isso não deveria fazer nossos artistas ignorarem os pontos positivos e as evidentes características de nossa nação a fim de ilustrar o tipo de coisa bem recebida pelos organizadores de tais festivais".

A história emotiva da dissolução de um casamento ganhou as plateias com seus diálogos naturais e tratamento dramático de temas como lealdade, classe e família, obtendo 100 por cento de aprovação dos críticos no site norte-americano Rotten Tomatoes e 94 por cento dos espectadores.

A premiação acontece num momento em que as relações entre Estados Unidos e Irã estão muito tensas, com o Irã dizendo que pode fechar uma importante rota mundial de embarque de petróleo se novas sanções ocidentais bloquearem suas exportações de petróleo - o que pode levar a um impasse militar.

"Eu prefiro dizer algo sobre meu povo. Acho que eles são verdadeiros amantes da paz", disse Farhadi no Globo de Ouro, em um discurso de agradecimento que não teve nenhuma mensagem abertamente política.

Evitando o constrangimento do cineasta iraniano Abbas Kiarostami, que foi beijado por Catherine Deneuve quando aceitou a Palma de Ouro em Cannes em 1997, Farhadi não chegou nem mesmo a apertar a mão de Madonna, em conformidade com a lei iraniana que proíbe contato entre homens e mulheres que não sejam casados.

O sucesso crescente do filme internacionalmente deve renovar os temores de cineastas no Irã, cujos roteiros precisam ser submetidos ao Ministério da Cultura e Orientação Islâmica do Irã para aprovação. Vários cineastas foram detidos, encarcerados ou banidos.