Spielberg mostra coração de menino e faceta de mago da técnica em "As Aventuras de Tintim"
Uma vez, Steven Spielberg descreveu Tintim, o personagem criado nos quadrinhos do desenhista belga Hergé (1907-1983), como "o Indiana Jones para crianças". Nada mais lógico, portanto, que o diretor americano um dia se dedicasse a levar para a tela a história, o que ele faz com grande fidelidade ao visual original em "As Aventuras de Tintim", que estreia nesta sexta (20).
O filme venceu o Globo de Ouro de melhor animação e concorre a diversos outros prêmios, como o do Sindicato de Produtores dos Estados Unidos, considerado um sério indicador de que poderá receber nomeações ao Oscar.
Convivem em Spielberg dois lados: o mago da técnica, que por seu prestígio pode permitir-se não poupar recursos (o que ele faz realizando uma animação baseada na captura eletrônica dos movimentos dos atores e no 3D) e também uma espécie de coração de menino, sempre em busca da fonte de maior encantamento. Embora, é bom que se diga, em "As Aventuras de Tintim" o charme apela mais ao mundo masculino.
Com roteiro dos britânicos Steven Moffat, Edgar Wright e Joe Cornish, a história mistura três aventuras escritas por Hergé entre 1941 e 1944. O jovem repórter Tintim (Jamie Bell, de "Billy Elliott") compra numa barraca de antiguidades um modelo de navio a vela, o Unicórnio. Segundos depois da compra, Tintim é assediado pelo misterioso Ivan Sakharine (Daniel Craig), que oferece uma alta soma pelo navio. Mas o rapaz não aceita.
O navio esconde um segredo: dentro de seu mastro está uma das três partes de um tipo de mapa que leva a um tesouro perdido nos séculos. Sem saber de nada, Tintim tem a desagradável surpresa de encontrar seu apartamento arrombado e revirado. Como os ladrões não encontraram o que queriam, o próprio Tintim será exposto ao perigo, sendo sequestrado por malfeitores num navio.
Nesse navio, enquanto põe para funcionar suas mil e uma habilidades, beneficiando-se também de seu não menos esperto cãozinho, Milu, Tintim encontra um capitão alcoólatra, Haddock (Andy Serkis), descendente do capitão que achou originalmente o tesouro, sir Francis Haddock. Forma-se aí a dupla improvável que vai tentar impedir o vilão Sakharine de apoderar-se da riqueza perdida.
A luta para encontrar as três partes do mapa leva Tintim e o capitão a viagens exóticas, que incluem o deserto do Saara - onde cai o avião que os levava - e também a uma certa Bagghar, no Marrocos. Nesta última parada, acontece uma das melhores sequências do desenho, envolvendo uma acelerada perseguição à la Indiana Jones, ladeira acima, ladeira abaixo, com vários tipos de veículos e na qual Tintim parece empenhado em provar que quase pode voar. Uma sequência que, diga-se de passagem, levou um ano e meio para ficar no ponto que Spielberg queria. Mas valeu a pena.
Outra boa sequência é o flashback que descreve a batalha entre o ancestral de Haddock e o pirata Red Rackham - na qual os dois navios a vela enroscam seus mastros em chamas, enquanto as respectivas tripulações empenham-se em encarniçada luta corporal. O filme circula em versões convencionais, 3D e Imax, dubladas ou legendadas.
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