Forte concorrente ao Oscar, filme P&B e mudo "O Artista" faz homenagem às origens do cinema
Numa época em que só se fala em 3D, não deixa de ser curioso que um dos filmes mais premiados ao redor do mundo e badaladíssimo na corrida ao Oscar deste ano, como vice-campeão em indicações (10), "O Artista", remeta à nostalgia das origens do cinema.
Ainda que de passaporte francês, o filme de Michel Hazanavicius ("Agente 117") homenageia o antigo cinema norte-americano, em torno do estúdio Kinograph. Mudo 99% do tempo, com bela fotografia em preto e branco, narra a ascensão e queda de um astro do cinema mudo, George Valentin (o habituê dos filmes de espionagem cômica do diretor, Jean Dujardin), que corre em paralelo à consagração de uma nova estrela do novo cinema falado, Peppy Miller (Bérénice Bejo).
HOMENAGEM AO CINEMA
Um dos filmes mais badalados da temporada, "O Artista", que recebeu dez indicações ao Oscar, está sendo considerado uma homenagem aos primórdios do cinema norte-americano. Mudo e em preto e branco, o longa faz referência a cenas clássicas de filmes como "Cantando na Chuva" e "Cidadão Kane", além de homenagear astros como Rodolfo Valentino e Charlie Chaplin
Os dois atores, numa sequência ótima, celebram os musicais americanos - o que aproveita inclusive a impressionante semelhança de Dujardin com Gene Kelly -, contribuindo para a instalação de uma atmosfera festiva.
Apesar de o encontro entre George e Peppy marcar o nascimento de um romance, nem tudo é alegria. George, afinal, ainda é casado com Doris (Penelope Ann Miller), embora suas relações estejam mais azedas do que nunca. Profissionalmente, a estrada do astro também encontra seus primeiros obstáculos - é 1927, o cinema sonoro bate à porta e o chefão do estúdio, Al Zimmer (John Goodman), pressiona George para adaptar-se rapidamente aos novos tempos.
Seja por ingenuidade ou mesmo empáfia, nada está mais longe dos planos do ator do que começar a falar na tela. "Sou eu que as pessoas querem ver, elas nunca precisaram me ouvir", é o seu argumento. Com a chegada da graciosa Peppy, no entanto, o público se interessa cada vez mais pelos artistas que possa também escutar, além de ver. Rapidamente, George torna-se o passado, Peppy o futuro.
O contraste entre os dois só aumenta, seguindo a curva dramática vista em filmes como "Nasce uma Estrela" (em qualquer uma de suas muitas versões). O astro que sempre teve Hollywood a seus pés se confronta, pela primeira vez, com o fracasso. Os espectadores cansaram-se de seus truques, bem como de seu adorável cãozinho Uggy, um acrobata de primeira que rouba a cena sempre que pode. Para George, a perspectiva é a solidão, a bancarrota, o alcoolismo. Todos o abandonam, exceto o cão e seu fiel motorista, Clafton (James Cromwell), ainda que ele nem mesmo receba mais o seu salário.
Só um milagre pode salvar George e, inegavelmente, é este tipo de mágica de final feliz que "O Artista" persegue, além de colocar um outro tema: a procura, nas origens do cinema, de uma narrativa mais direta, simples e capaz de entreter e fazer sonhar, como sinalizou a comédia de Woody Allen, "Meia-Noite em Paris", que abriu o Festival de Cannes 2011. Deste mesmo festival, o filme de Hazanavicius, que competia pela Palma de Ouro, saiu com seu primeiro prêmio, o de melhor ator para Dujardin, que já venceu também no Globo de Ouro e no Sindicato dos Atores da América e é um forte concorrente ao Oscar, se o espírito patriótico da Academia de Ciências e Artes de Hollywood não falar mais alto.
"O Artista" concorre também ao Oscar de melhor filme, direção, atriz coadjuvante (para a atriz nascida na Argentina Bérénice Bejo), roteiro original, direção de arte, figurino, fotografia, montagem e trilha sonora.
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