Novo filme mostra conflito africano pelos olhos de uma menina
BERLIM, Alemanha - O diretor canadense Kim Nguyen mostra a vida traumática de uma criança-soldado em um conflito africano não especificado pelo olhar de uma menininha em "War Witch", um drama angustiante, mas que traz um elemento de esperança. O filme teve sua estreia mundial no Festival de Berlim nesta sexta-feira (17), e é o último dos 18 títulos em competição a ser exibido. O evento de cinema anual, também conhecido como Berlinale, termina com uma cerimônia de premiação no sábado (18).
Nguyen, que pensava em trabalhar no projeto havia 10 anos, disse ter recebido de um amigo o conselho de filmar apenas o que ele conhecesse. "Enquanto escrevia esse roteiro, não sei o por quê, mas eu tive uma ligação tremenda com essa menina", disse a jornalistas depois de uma exibição na qual o filme foi calorosamente aplaudido. "Trata-se mais de tentar falar sobre o que você pode sentir do que sobre o que você conhece."
"War Witch" foi filmado na República Democrática do Congo e usou uma mistura de atores veteranos do Canadá e novatos congoleses, incluindo a jovem estrela Rachel Mwanza. Ela faz o papel de Komona, uma menina de 12 anos cuja vida pacífica em um vilarejo é interrompida quando rebeldes chegam, matam a maioria de seus vizinhos, obrigam-na a assassinar seus próprios pais e partem com uma dezena de crianças recrutas.
Depois de sobreviver a uma luta com as forças do governo, Komona recebe o status de "bruxa" e passa a ser tratada com respeito pelos rebeldes, mas também é escolhida para ser a concubina do líder rebelde Grande Tigre. Durante esse tempo todo ela é assombrada pelos fantasmas dos pais, que pedem que ela coloque as almas deles para descansar se quiser um dia encontrar a paz. Ela se apaixona por um rebelde albino chamado Mágico, um relacionamento que traz um alívio temporário ao seu sofrimento.
Nguyen disse que usou deliberadamente técnicas não convencionais para contar histórias, como os fantasmas, para reforçar a visão infantil que queria criar. "Quis fazer esse filme como se eu fosse uma criança pequena, um diretor de 14 anos que não entende de política. Quis tentar projetar o filme visto pelos olhos dessa personagem. Acho que a política dele é filtrada através dos olhos da criança. Não quis que esse fosse um filme educacional".
Há humor em meio à barbárie dos assassinatos, execuções e escravidão, como quando Komona envia o Mágico para uma busca para encontrar um galo branco se ele quiser desposá-la. Rindo por ter caído no velho truque -- aparentemente, não existem galos brancos --, o Mágico, no entanto, consegue encontrar um, destacando uma determinação e heroísmo que o separa do resto dos combatentes.
Mwanza, de Kinshasa, disse na coletiva de imprensa que foi abandonada pelos pais quando pequena e criada pela avó, que depois a enviou às ruas quando não podia mais sustentá-la. Ela apareceu em um documentário e deu o dinheiro que ganhou para sua avó para pagar por sua educação. Quando o dinheiro foi usado para outros propósitos, ela fugiu para um centro de refugiados. "É uma espécie de milagre, se puder dizer isso, eu ter continuado depois do primeiro filme", disse ela através de um intérprete.
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