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Com Claudia Ohana e Vanessa Giácomo, "A Novela das 8" homenageia "Dancin' Days"

Claudia Ohana e Vanessa Giácomo em cena de "A Novela das 8", longa de Odilon Rocha - Divulgação
Claudia Ohana e Vanessa Giácomo em cena de "A Novela das 8", longa de Odilon Rocha Imagem: Divulgação

Alysson Oliveira

Do Cineweb, em São Paulo

29/03/2012 11h49

Num tempo remoto, quando a novela do horário nobre era conhecida como novela das oito e começava mesmo às 20h30, "Dancin' Days" fez história entre 1978 e 1979, ditando moda em figurino, trilha sonora, danças e gírias. O folhetim, lançado em DVD no final do ano passado, fazia um retrato da classe média carioca da época.

No filme "A Novela das 8", que estreia em São Paulo e no Rio, uma das maiores fãs do programa é Amanda (Vanessa Giácomo, de "Jean Charles"), prostituta que tenta marcar o horário de seus clientes de maneira a não perder o capítulo do dia.

BEIJO GAY

  • Felipe Assumpção/AgNews

    Depois dos galãs da minissérie "Maysa" e da novela "Viver a Vida", Mateus Solano vive um diplomata que descobre a homossexualidade no filme "A Novela das 8", de Odilon Rocha, e diz que não teve problemas para interpretar um beijo gay "com muita testosterona".

Há dois polos no filme. De um lado está Amanda, que, para usar um termo bem comum na época, era a alienada. E de outro, está Dora (Claudia Ohana, de "Desenrola"), sua empregada, com um passado que a patroa desconhece.

Ela foi guerrilheira, presa e torturada, teve de se mudar para São Paulo, usando uma identidade falsa, deixando para trás um filho, Caio (Paulo Lontra), criado pelos avós.

O roteiro, assinado pelo diretor Odilon Rocha, tem "Dancin' Days" não apenas como um motivo de fundo, mas também como inspiração para tramas e o visual do filme e de personagens.

Amanda e Dora são obrigadas a fugir para o Rio de Janeiro, onde a garota de programa sonha em badalar e conhecer a verdadeira boate "Frenetic Dancin' Days". Já a guerrilheira, tal qual a personagem de Sonia Braga na novela, se aproxima do filho, que não a conhece, fingindo ser outra pessoa. Nos figurinos também há homenagem. Em uma cena, por exemplo, Amanda usa o mesmo visual de espanhola da personagem de Sonia.

Mas as boas ideias de "A Novela das 8" estão dispersadas ao longo do filme, ao qual falta força e unidade, apesar de ter duas excelentes atrizes como protagonistas.

As tramas, especialmente aquela em que Caio quer assumir sua homossexualidade e se envolve com um diplomata em crise (Mateus Solano), muitas vezes parecem precisar de mais tempo para amadurecer. Em outras palavras, as deficiências do filme partem do seu alicerce: o roteiro.

Sobram homenagens. O personagem de Antonio Fagundes em "Dancin' Days" também era um diplomata em crise, mas não era homossexual, porém falta aprofundar os personagens para que ganhem vida própria e deixem de ser a sobra daqueles da novela.

O filme é um melodrama que poderia facilmente ganhar contornos almodovarianos com suas personagens femininas, mas falta exatamente aquela pulsação de vida dos filmes do espanhol, que lhe daria força e personalidade.

A novela das oito propriamente dita, "Dancin' Days", mal aparece no filme. Quando muito, se ouve a música de abertura. Faz falta, para aqueles que não conhecem o folhetim, assisti-lo um pouco mais para dimensionar a influência da novela. O filme tenta, até certo ponto, explorar o diálogo entre a realidade e a ficção. Mas do meio para o final sucumbe completamente à fantasia.

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

TRAILER DO FILME "A NOVELA DAS 8"