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Com Viggo Mortensen, "Um Método Perigoso" mostra discordâncias entre Freud e Carl Jung

Cena de "A Dangerous Method", de David Cronenberg - Divulgação
Cena de "A Dangerous Method", de David Cronenberg Imagem: Divulgação

Neusa Barbosa

Do Cineweb, em São Paulo

29/03/2012 12h43

Ao acompanhar a filmografia do diretor canadense David Cronenberg, pode-se ter a impressão de estar seguindo as pegadas de Sigmund Freud e Carl Gustav Jung. As pesquisas dos dois pioneiros da psicanálise certamente serviriam para tentar decifrar os complexos personagens que habitam filmes como "Gêmeos - Mórbida Semelhança" (1988), "Crash - Estranhos Prazeres" (1996) e "Spider - Desafie sua Mente" (2002).

Em "Um Método Perigoso", que concorreu ao Leão de Ouro no Festival de Veneza 2011 e estreia nesta sexta (30), Cronenberg voltou-se para os próprios Freud e Jung. Partindo da peça "The Talking Cure", de Christopher Hampton - também corroteirista -, realizou uma densa ficção que focaliza o encontro entre o pai da psicanálise e um de seus mais criativos discípulos, antes que diferenças inconciliáveis os separassem.

ESCALAÇÃO SURPREENDENTE

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    Mais conhecido por papéis de ação, com personagens que fala pouco, o ator Viggo Mortensen conta que ficou surpreso com sua escalação para interpretar Freud em "Um Método Perigoso", do diretor David Cronenberg.

A narrativa começa com Carl Jung (Michael Fassbender) atuando numa clínica psiquiátrica em Zurique e encarregando-se do caso de uma jovem paciente histérica, Sabina Spielrein (Keira Knightley). É um caso complicado e que requer enorme esforço do médico, descobrindo por trás do caso da moça evidências de uma história familiar complicada, que acarretou um comportamento autodestrutivo.

Trabalhando pela terceira vez com o diretor, o ator norte-americano Viggo Mortensen encarna Freud, o pioneiro da psicanálise que, em Viena, influenciou diversos profissionais, inclusive Jung. O jovem médico suíço encontra-se com seu mentor, quarenta anos mais velho, e inicia-se uma ativa troca de correspondência e experiências.

Aos poucos, afirmam-se as diferenças entre os dois - não só de idade, classe social, religião (Freud era judeu, Jung, protestante) e personalidade. E, a partir de um certo momento, divergem especialmente em sua postura profissional diante de aspectos cruciais na determinação da psique humana - como a sexualidade.

A sexualidade, não na teoria, e sim na prática, cria uma das muitas discordâncias entre Jung e Freud, a partir do momento em que o primeiro, casado e com filhos, envolve-se com sua ex-paciente, Sabina, que se tornou psicanalista também. E, na vida íntima, mais do que atenuar algumas perversões de Sabina, passa a participar delas também.

Um grande mérito do filme está em não sucumbir ao peso habitual das produções de época - que Cronenberg frequenta pela quarta vez -, permitindo que seus personagens se movimentem e reajam de forma natural em seus ambientes.

O diretor também enfrenta a contento o desafio de humanizar dois mitos do nível de Freud e Jung, tornando palpáveis tanto suas contradições quanto seus sentimentos.

Da mesma forma, tornam-se claros alguns dos principais conflitos entre o pensamento dos dois, desde o papel supremo defendido por Freud para a sexualidade como determinante do comportamento humano - que Jung contrapõe com uma procura também do transcendente, que o levará ao conceito do inconsciente coletivo.

Uma outra leitura indica ainda o quanto "Um Método Perigoso" sinaliza um preciso retrato de época. Numa Europa sacudida por vanguardas artísticas e que se acreditava muito civilizada quando, na realidade, caminhava para o massacre da Primeira Guerra Mundial, torna-se difícil subtrair a Freud o acerto na opinião de que nem tudo a racionalidade poderia resolver dentro da civilização.

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

TRAILER DO FILME "UM MÉTODO PERIGOSO"