Topo

Charlize Theron vive escritora problemática em novo filme de diretor e roteirista de "Juno"

Charlize Theron em cena de "Jovens Adultos", filme de Jaison Reitmen, que chega ao Brasil em fevereiro de 2012 (21/11/11) - Divulgação
Charlize Theron em cena de "Jovens Adultos", filme de Jaison Reitmen, que chega ao Brasil em fevereiro de 2012 (21/11/11) Imagem: Divulgação

Alysson Oliveira

Do Cineweb, em São Paulo*

05/04/2012 11h29Atualizada em 05/04/2012 19h05

"O inferno são os outros", disse o filósofo Jean-Paul Sartre. "Mas o diabo somos nós mesmos", poderia ter dito (e provado) a escritora norte-americana Mavis Gary - autora de uma série livros infanto-juvenis, que já viveu dias melhores no passado.

Chegando à casa dos 40, ela acha que está na hora de mudar. Mais do que criar um futuro completamente novo, ela prefere revisitar o passado, voltando à sua pequena cidade do interior para reconquistar o grande amor de sua juventude - que está casado e acaba de ser pai pela primeira vez.

Charlize Theron ("A Estrada") interpreta Mavis em "Jovens Adultos", uma nova parceria da dupla criadora de "Juno" (2007), o diretor Jason Reitman e a roteirista Diablo Cody.

Algo que se percebe logo no começo deste longa é que eles não estão interessados em seguir as regras - especialmente as do conformismo, vigentes na cartilha de Hollywood. Primeiro, a protagonista não é nada agradável. Arrogante, ela está em crise permanente, e, por isso, parece crer que o mundo existe ao seu dispor.

Seu apartamento pequeno e entulhado de coisas é o seu cenário. Sua única companhia é sua cadelinha e uma televisão grande e ligada o tempo todo em qualquer programa. Escrevendo aquele que será o último livro de uma série -algo à la "Gossip Girl"-, ela encara um momento de bloqueio criativo. Aliás, Mavis enfrenta a tela branca do computador e uma concorrência um tanto desleal. Quando diz a um conhecido que escreve livros para jovens, ele responde: "Tipo aqueles de vampiro?".

Na verdade, não. Seus livros são aqueles para adolescentes cheias de crise de afirmação e identidade, que precisam passar por um inferno pessoal e descobrir quem são. Tal qual Mavis. O problema é que ela deixou de ser adolescente há praticamente duas décadas e é preciso, finalmente, crescer. O mundo lhe cobra soluções e atitudes. Afinal, é uma adulta. E ela faz coisas que gente grande irresponsável faria - como tentar seduzir um homem casado e pai de família.

Aos poucos, descobrimos sobre os passados recente e remoto da personagem, que abandonou sua pequena Mercury e foi para a cidade grande, onde se casou, divorciou, adquiriu o vício da bebida e perdeu completamente o rumo de sua vida.

Vindo de um roteiro de Diablo Cody, a narrativa jamais é paternalista ou moralista. É como se ela e Reitman dissessem: "Esta é Mavis, gostem ou não dela, mas esta é ela". E aí reside o prazer (e o problema, para alguns) de "Jovens Adultos": como se entregar a um filme protagonizado por uma mulher insuportável? Um filme que, até o fim, irá contra ideias românticas de redenção, superação e mudança?

Mavis parece tomada pelas bobagens juvenis que despeja em seus livros: seguir o coração, seres ligados pelo destino, almas gêmeas. É tudo isso que espera encontrar em Buddy (Patrick Wilson, num papel não muito diferente daquele que fez em "Pecados íntimos"), que está preso no seu inferno doméstico.

Isso, na visão da protagonista - pois, para ele, ser casado e pai de um bebê é o paraíso. Embora é bem provável que qualquer homem fique balançado quando sua bela namorada da juventude volta a bater na sua porta 20 anos depois, pedindo-lhe para largar a mamadeira que tem nas mãos e fugir com ela para a cidade grande.

Quando gente da cidade grande, aliás, vai à cidade do interior, num filme hollywoodiano, certamente, essa pessoa irá aprender lições valorosas sobre a vida e voltar (se não resolver ficar ali) com um novo amor e outra visão de mundo. Mavis simplesmente cuspiria nessa ideia - e com um bocado de razão.

Ela reencontra a mãe e o pai (Jill Eikenberry e Richard Bekins) quase por acaso. E há também Matt (o comediante Patton Oswalt), um antigo colega de Mavis no colegial, mas de quem, é claro, ela não se lembra, até notar a sua dificuldade em se locomover e ligar os fatos: ele foi a vítima de homofobia que foi atacado naquela época, apesar de não ser gay. Mas disso ela também não se deu conta.

O personagem de Matt serve como um contraponto, um alívio cômico e um equilíbrio dentro da estrutura de "Jovens Adultos". Ele é o que há de mais humano dentro deste universo. E também o único capaz de tentar colocar um pouco de razão dentro da cabeça de Mavis, dizendo verdades a ela sem qualquer hesitação.

Quarto filme de Reitman -que também fez "Obrigado por Fumar" e "Amor sem Escalas"-, "Jovens Adultos" é a prova de que o diretor vai traçando uma carreira interessante e, até certo ponto, ousada, centrada especialmente em estudo de personagens complexos e fora das convenções. Personagens que de longe são pessoas comuns - mas, como já disseram, de perto, ninguém é normal.

Mavis é, certamente, a menos agradável, a mais difícil de simpatizar. Ainda assim, graças ao talento de Charlize (de Reitman e Diablo também, é claro), pode-se torcer por ela. Mavis é como aquela amiga chata de quem gostamos, temos um pouco de pena, um bom tanto de raiva, mas, sabemos que, no fundo, ela pode dar certo - basta tentar.

(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb