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Scorsese diz que ainda não está satisfeito com seu trabalho

Martin Scorsese  apresenta "As Aventuras de Hugo Cabret", no Japão (16/02/12) - AFP
Martin Scorsese apresenta "As Aventuras de Hugo Cabret", no Japão (16/02/12) Imagem: AFP

Christine Kearney

Nova York

11/04/2012 16h19

A passagem do tempo parece estar na cabeça de Martin Scorsese. Depois do sucesso de crítica do filme "A Invenção de Hugo Cabret", o diretor diz que todos os seus próximos filmes serão em 3D. Chegando perto dos 70 anos, porém, ele está mais preocupado em aperfeiçoar o seu registro da vida americana do que com a tecnologia.

Scorsese falou à Reuters durante uma nova campanha de publicidade para o Hennessy Cognac (uma das diversas marcas que promove) sobre sua longa carreira, sobre a sua relação com os atores e sobre a produção de filmes.

Reuters: Nos últimos tempos, você ganhou a reputação de ser uma das pessoas mais acessíveis de Hollywood.
Martin Scorsese:
Bem, sou um nova-iorquino. Sou um "Manhattanite" , devo dizer. Mas, acho que ao longo dos anos, quis ser gigante e egotista; é isso que faço no trabalho e tenho de pensar dessa forma às vezes. Eu me preparo psicologicamente e emocionalmente dessa forma e, ao longo dos anos, tenho 69, posso ter exagerado. Descobri que isso não era muito produtivo para ninguém. Aí você recua.

Reuters: Por que você ainda está motivado a fazer o que faz?
Martin Scorsese:
Não estou satisfeito com o trabalho. Não sei.

Reuters: Algumas pessoas poderão achar isso inacreditável, vindo de você.
Martin Scorsese: Sei que, se fui inspirado por 2.280 filmes ou seja lá o que for no passado, nunca serei capaz de equiparar esse sentimento de transcendência que tive, por vezes, de assistir a alguns filmes, talvez assistindo a esses filmes 20 ou 30 vezes, cada um. Assim, talvez eu nunca estarei nessa liga com os meus próprios filmes, para mim. Talvez por isso eu esteja tentando.

Reuters: Então é importante estar nessa liga de diretores?
Martin Scorsese:
Sim. Gostaria de ser um deles. Mas percebo que sou quem sou e estou no fim do espectro, por assim dizer, estou no fim da trilha. Então, estou tentando fazer, o máximo possível, as histórias valerem a pena, as que sobraram. É um desafio interessante por causa do mercado, da mudança na indústria, da mudança na tecnologia e eu gostaria de chegar lá. Não sei aonde, para ser franco. É a ideia de, não sei se de fato algum dia nós nos assentamos com algo. Se a resolução é ruim, temos de concluir ou não. E isso pode soar estranho, mas algumas vezes é melhor dizer 'não vamos terminar. Isso não quer ser concluído'. Eles me perguntam: 'Você assiste aos seus filmes depois?' E eu digo 'Não'. Não. Muitos deles, alguns são muito engraçados, mas com muita frequência a experiência emocional de fazer o filme volta para mim muito forte.

Reuters: Falando em mudanças tecnológicas, você faria outro filme em 3D depois do sucesso de crítica de "A Invenção de Hugo Cabret"?
Martin Scorsese:
Sim. Em um segundo. Com a exceção de - bem, dada essa forma como eles estão fazendo e têm feito - a câmera ou o equipamento ficando mais flexível, menor. E então eu farei tudo em 3D.

Reuters: E outro filme para crianças?
Martin Scorsese:
Não sei se terei tempo...não resta tempo, mas se algo do tipo aparecer, não me importaria em tentar de novo, sem dúvida. Mas estou tentando finalizar outras coisas na minha vida agora sobre determinados manifestos, sobre a vida, a vida americana, em especial a vida como eu a conheço.

Reuters: E o seu próximo filme, "The Wolf of Wall Street", com DiCaprio mais uma vez? O que você falará sobre nosso sistema financeiro?
Martin Scorsese:
É uma reversão nos valores, acho. Tudo parece estar distorcido e revirado. Eu pensava que este país, nos termos sobre os quais fomos fundados, era a ideia do bem comum. E eu não vejo isso quando você desencadeia esse tipo de comportamento. Pessoas são pessoas, pessoas são humanas e, quando você tem a capacidade de fazer, você segue adiante. E, quando isso está descontrolado, é claro que isso vai acontecer e não é a primeira vez...Mas o problema é a reversão de valores, acho, e não sentir compaixão pelos outros e pelas pessoas que você feriu.