"A Toda Prova" tem elenco famoso e heroína desconhecida
Há alguns diálogos bastante reveladores em "A Toda Prova", novo trabalho de Steven Soderbergh. Como na série iniciada com "Onze Homens e Um Segredo" (2001), o diretor e seu elenco parecem divertir-se mais do que o público. Num deles, um personagem diz mais ou menos isso: "Quero que isso seja visto estritamente como profissional". O outro responde: "O motivo é dinheiro. Sempre é dinheiro". Fica muito fácil associar a fala à carreira recente de Soderbergh.
Era uma vez um jovem cineasta com pouco mais de 20 anos, algumas ideias sobre cinema independente e uma Palma de Ouro debaixo do braço por "Sexo, Mentiras e Videotape" (1986). Desde então, ao longo de quase três décadas, ele transitou entre o cinemão altamente comercial e a tribo independente que fez a alegria do circuito de festivais - com filmes como "Irresistível Paixão", "O Estranho", "Traffic" e "Erin Brokovich - Uma Mulher de Talento", com o qual ele soube combinar as duas vertentes.
Desde então, Soderbergh parece não ter mais se encontrado. Fez algumas coisas divertidas ("Onze Homens...", mas não suas sequências), outras calculadamente ousadas ("Solaris" e dois filmes sobre Che Guevara, "Che" e "Che 2 - A Guerrilha"), um filme bem bom ("Confissões de Uma Garota de Programa") e várias obras dispensáveis ("O Desinformante", "Full Frontal", "Contágio"). Essa última lista cresce com "A Toda Prova", filme-pancadaria sobre um nada de história e uma protagonista boa de briga e ruim de atuação.
A moça em questão é a lutadora de MMA Gina Carano, que vive Mallory Kane, uma espécie de mercenária que está precisando de férias, mas acaba se envolvendo numa missão internacional. Ao menos, é disso que parte a trama assinada por Lem Dobbs ("A Cartada Final"). O que vem entre esse começo e o diálogo final -na verdade só uma palavra que muito bem resume o filme- é uma sucessão de socos e sopapos, protagonizados por Gina e alguns homens que têm a infelicidade de cruzar o seu caminho, entre eles Ewan McGregor ("O Escritor Fantasma"), Channing Tatum ("GI Joe - A Origem de Cobra") e o galã do momento, Michael Fassbender ("Shame").
O que "A Toda Prova" quer ser é um mistério. Parte comédia, parte filme de espionagem, parte filme de pancadaria, o longa se perde na falta de coesão ao transitar entre os gêneros sem se resolver. Pouco ajuda a falta de destreza da lutadora na frente das câmeras quando o objetivo da cena não é bater.
Mallory, mais tarde, descobre que não pode confiar em ninguém -uma espécie de clichê do gênero de espionagem- e se transforma num exército de uma mulher só, uma máquina de destruição. Não chega a ser um Schwarzenegger, está mais para um Bruce Lee ou um Jackie Chan. Sua presença no filme, como a da atriz pornô Sasha Grey em "Confissões de uma Garota de Programa", é um elemento paradoxal no filme. Dá segurança e estranhamento.
Soderbergh sempre foi um diretor conhecido por sua precisão técnica e por conseguir atrair uma série de atores famosos - aqui estão também Antonio Banderas e Michael Douglas. Mas esses detalhes não bastam para transformar "A Toda Prova" em um filme acima do banal. Enquanto os personagens trocam pancadas e se divertem -ou nem tanto-, do lado de cá da tela impera o tédio.
TRAILER DE "A TODA PROVA"
(Texto de Alysson Oliveira, do Cineweb)
* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb
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