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Alain Resnais revisita lenda de Orfeu em novo filme em Cannes

Alexandria Sage

Em Paris

21/05/2012 13h53Atualizada em 03/06/2012 14h12

Junte 15 atores franceses bem conhecidos de teatro e cinema, adicione uma lenda grega clássica e "voila", você tem os ingredientes para a mais recente obra do diretor francês Alain Resnais em Cannes.

"Vous N'Avez Encore Rien Vu" ("Você Não Viu Nada Ainda") é um filme de arte dentro de um filme que depende fortemente de seu elenco, que inclui Sabine Azéma, Pierre Arditi, Anne Consigny e Lambert Wilson.

Trata-se de um dos poucos filmes de língua francesa na competição pelo prêmio máximo do festival de cinema, a Palma de Ouro, a ser entregue no domingo.

"Você Não Viu Nada Ainda" é baseado na peça de Jean Anouilh, Eurídice, que por sua vez é baseada na lenda clássica grega de Orfeu, na qual o jovem músico sem sucesso tenta salvar sua amada Eurídice do submundo.

Resnais, de 89 anos, é um leão do cinema francês, com seis décadas de filmagens próprias e homenageado em Cannes em 2009 com um prêmio pelo conjunto da obra.

Os temas da memória e do tempo, e enredos que dependem de narrativas entrelaçadas surgem de novo e de novo em suas obras, cujo trabalho mais conhecido inclui seu primeiro longa, "Hiroshima Mon Amour" ("Hiroshima Meu Amor"), e o documentário sobre o campo de concentração "Nuit et Brouillard" ("Noite e Nevoeiro").

Em "Você Não Viu Nada Ainda", o elenco interpreta a si mesmo em um reencontro na casa de um diretor falecido (Denis Podalydes) com quem eles haviam trabalhado no passado em "Eurídice". Seu último desejo é que eles vejam um filme de uma trupe jovem atuando a peça.

Conforme os atores assistem, trechos do diálogo que eles antes haviam memorizado voltam, e eles gradualmente interpretam os papéis eles mesmos.

"Os atores estão se retratando no filme, eles recordam e lembram o seu passado", disse Resnais, em entrevista coletiva, falando em francês. "De repente, enquanto eles estão interpretando seus papeis, eles se veem presos em fantasmas, os fantasmas de suas memórias."

As reações iniciais ao filme foram mornas, com vários críticos e blogueiros citando o estilo formal do diretor que manteve à distância qualquer ligação emocional com os personagens.

O Guardian chamou de "um filme indulgente e autoconsciente sobre atuação, memória e a persistência do passado".

"Como muito do trabalho recente de Resnais, ele representa um desafio interessante para o consenso realista do cinema, para a convenção de que devemos fingir que o que está sendo atuado na tela está realmente acontecendo", diz a resenha.

"Mas apesar de seus momentos de charme e capricho, o filme é prolixo, inerte, indulgente e muitas vezes simplesmente tedioso."

Resnais disse que tem se interessado há anos pela relação entre teatro e cinema, uma conexão que se desenrola no filme conforme os sets de filmagem lembram palcos, e vice-versa.

"Nós vemos onde estão as diferenças, mas parece-me que há algo grande que pode colocar o teatro e o cinema mais próximos e essa é a necessidade dos atores", disse Resnais à imprensa.

A atriz Sabine Azéma, esposa de Resnais que interpreta uma das três Eurídices no filme, disse que o elenco que o marido reuniu era um dos pontos fortes do filme.

"Eles sabem que eles são livres para inventar, e é por isso que Resnais os escolheu, é o que ele está esperando que eles façam. Eu me pergunto se é o seu talento para organizar o grupo que eu mais admiro nele", disse Azema à semanal francesa Le Nouvel Observateur.