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Comédia dramática italiana "A Primeira Coisa Bela" faz crônica familiar

Cena do filme "A Primeira Coisa Bela", de Paolo Virzì - Divulgação
Cena do filme "A Primeira Coisa Bela", de Paolo Virzì Imagem: Divulgação

Alysson Oliveira

Do Cineweb, em São Paulo*

14/06/2012 10h58Atualizada em 14/06/2012 21h52

A beleza para Anna (Micaela Ramazzotti) não chega a ser um fardo, mas é causa de problemas. Especialmente aqueles que começaram décadas atrás, quando numa festa, em sua vila litorânea, ela é coroada Miss Mama.

Num primeiro momento, os assobios e aplausos são divertidos, fazem carinho ao ego. Mas quando as palavras e gestos se tornam vulgares, sua estrutura familiar mostra rachaduras. Esse é o ponto de partida da comédia dramática "A Primeira Coisa Bela", que estreia em São Paulo na sexta-feira (15).

O filme do italiano Paolo Virzì acompanha Anna e seu casal de filhos ao longo de quase quatro décadas. Indo e voltando no tempo, retrata uma Anna juvenil, abandonando o marido (Sergio Albelli) e tentando refazer sua vida com seus filhos, entrando em relacionamentos sem futuro e enfrentando acusações sobre sua conduta.

No presente, a personagem é interpretada por Stefania Sandrelli ("O Jantar"), doente terminal, morando numa clínica e tentando reatar a relação com o filho, Bruno (Valerio Mastandrea), professor universitário viciado em drogas.

Virzì, que assina o roteiro com mais dois escritores, desconstrói a relação familiar a cada cena do passado para, mais tarde, reconstruí-la. É um trabalho delicado que arma uma teia entre o passado e o presente, que repercute e, às vezes, renega aquilo que os personagens viveram.

Se, nesse sentido, não há grande novidade, por outro lado, o diretor atinge o equilíbrio entre o emotivo e o cômico, sem nunca pender para extremos.

Mais do que uma justificativa do passado, o presente é o desenvolvimento natural dos personagens, suas mudanças ou reafirmações. Anna, mesmo com a saúde debilitada, não mudou, é extrovertida, cheia de amor para dar e tentando, a todo custo, agradar aos filhos, sem abrir mão de sua individualidade.

Estes, por sua vez, parecem ter se retraído por acompanharem, ao longo da juventude, o comportamento da mãe e, consequentemente, têm dificuldades nos relacionamentos amorosos. Bruno não consegue assumir a seriedade de um relacionamento. Já sua irmã, Valeria (Claudia Pandolfi), apesar de aparentemente bem casada, mantém um romance sério com seu chefe.

"A Primeira Coisa Bela" evolui como uma saga familiar em tom intimista. O escopo temporal permite conhecimento de várias histórias desses personagens, e o desenvolvimento do filme dá conta de criar uma personalidade bem delineada para cada um deles -- até para aqueles que aparecem menos na trama, como é o caso de Cristiano (Paolo Ruffini), filho de um advogado para quem Anna trabalhou, que, no fim, é um dos mais engraçados do filme.

A trilha sonora é praticamente um elemento narrativo. A começar pela canção que empresta o título ao longa --"La Prima Cosa Bella", sucesso italiano do começo da década de 1970 (quando começa a história)--, chegando à banda de rock contemporânea de Livorno (onde se passa boa parte da trama), Bad Love Experience.

O retorno de Bruno para a região onde nasceu e cresceu é um acerto de contas com seu passado e com sua mãe. Este é, no fundo, um filme sobre amadurecimentos - mesmo que a duras penas, ou mesmo que tardio.

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

TRAILER DO FILME "A PRIMEIRA COISA BELA"