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"Até a Eternidade" mostra inseguranças e medos de grupo de amigos em transformação

Cena de discussão no filme "Até a Eternidade", longa francês de 2010 que chega nesta sexta-feira (6) somente aos cinemas paulistanos - Divulgação / California Filmes
Cena de discussão no filme "Até a Eternidade", longa francês de 2010 que chega nesta sexta-feira (6) somente aos cinemas paulistanos Imagem: Divulgação / California Filmes

Alysson Oliveira

Do Cineweb*

06/07/2012 00h03

O drama francês "Até a Eternidade" faz lembrar o norte-americano "O Reencontro", mas só nas aparências. As quase três décadas que separam os dois filmes deslocam o foco da ação e do contorno de personagens.

O ator Guillaume Canet ("A Praia") assina a direção e o roteiro dessa trama sobre um grupo de amigos que se reúnem para férias à beira-mar, enquanto torcem pela recuperação de outro que está hospitalizado. O filme estreia apenas em São Paulo.

A primeira cena mostra Ludo (Jean Dujardin, ganhador do Oscar por "O Artista") saindo de uma balada e, antes mesmo do fim dos créditos iniciais, sua moto já está debaixo de um caminhão e ele no hospital. O acidente é um catalisador para o reencontro de um grupo de personagens que, apesar do acontecido, resolve manter as férias habituais na casa de um deles.

Custa um pouco para a trama entrar nos eixos, mas, aos poucos, os personagens mostram as suas caras, ganham identidade e a simpatia do público - especialmente porque não são clichês ambulantes, são gente de carne e osso, com medos, ansiedades, inseguranças e desejos. Não simbolizam uma virtude ou um defeito, mas conseguem reunir qualidades e falhas.

Há um clima de melancolia no ar, e não apenas por conta do acidente de Ludo, mas porque as pequenas derrotas que essas pessoas encontraram na vida parecem mais marcantes do que qualquer vitória.

Max (François Cluzet, de "O Último Caminho") é um rico dono de hotel que tenta não se incomodar com as investidas do amigo Vincent (Benoît Magimel, de "Uma Garota Dividida em Dois"), que anda confuso com sua sexualidade.

Marie (Marion Cotillard, de "Meia-noite em Paris") também tem dúvidas sobre quem, como ou se deve amar. Já Éric (Gilles Lellouche), mulherengo inveterado, gosta de manter uma namorada, só por garantia. E Antoine (o comediante Laurent Lafitte) fica esperando que sua Juliette (Anne Marivin) perceba a bobagem que fez ao terminar o relacionamento deles.

É esse cuidado com os personagens que mais encanta no drama de Canet, que trata a todos com dignidade. Há uma harmonia no elenco que faz com que todos estejam no mesmo patamar - mesmo quando o filme trilha caminhos previsíveis, especialmente em sua resolução.

Marion, que divide sua carreira entre filmes nos EUA ("A Origem", "Nine") e Europa (como o recente "De Rouille et D'os"), é uma presença luminosa aqui, enquanto Dujardin passa praticamente todo seu tempo em cena na cama de um hospital e com maquiagem pesada, por conta do rosto desfigurado com o acidente.

A longa duração de "Até a Eternidade" (mais de duas horas) não se justifica. Às vezes, algumas histórias se alongam ou repetem sem uma boa razão. Mas, no geral, a força dos personagens e a bela trilha sonora, mesclando clássicos dos anos 1970 (como Janis Joplin e The Weight) e músicas contemporâneas, são capazes de compensar alguns deslizes.

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

VEJA TRAILER LEGENDADO DE "ATÉ A ETERNIDADE"