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Musical "Bem Amadas" traz Catherine Deneuve e Chiara Mastroianni em enredo sobre amor

Relacões de amor e música pavimentam o enredo de "Bem Amadas", com Chiara Mastrioanni - Divulgação / Imovision
Relacões de amor e música pavimentam o enredo de "Bem Amadas", com Chiara Mastrioanni Imagem: Divulgação / Imovision

Alysson Oliveira

Do Cineweb*

12/07/2012 15h09Atualizada em 19/07/2012 17h38

"Bem Amadas", novo musical de Christophe Honoré ("Em Paris", "Canções de amor"), começa de forma até empolgante. Ao som de uma versão em francês de "These boots are made for walkin'", que ficou famosa na voz de Nancy Sinatra, mulheres experimentam os mais variados pares de sapatos.

MÃE E FILHA EM MUSICAL

  • Divulgação / Imovision

    Chiara Mastroianni e Catherine Deneuve estrelam "Bem Amadas", novo filme de Christophe Honoré

A cena se passa em Paris, em meados dos anos de 1960, e sob a perspectiva atual ganha ares retrô. O filme, então, faz uma ponte entre as duas épocas, sendo que a música e os amores de duas personagens pavimentam o caminho. O longa teve estreia no Rio de Janeiro no dia 13 de julho, e chega agora às salas paulistanas (veja trailer abaixo).

No passado, Madeleine (Ludivine Sagnier), vendedora da loja de sapatos da cena inicial, se torna prostituta, até ser resgatada por um médico tcheco, Jaromil (Radivoje Bukvic), com quem tem uma filha e se muda para a cidade de Praga. Não aguenta ficar muito por lá, nem tanto pela infidelidade do marido, mas pelas turbulências políticas do país no final dos anos de 1960.

Caprichando na direção de arte, figurino e cores, Honoré cria um passado remoto, ao mesmo tempo palpável, mas também um tanto onírico -- às vezes, um pesadelo. As músicas acontecem não como números. A ação não se interrompe para que os personagens cantem e figurantes dancem com eles. As canções simplesmente acontecem e agregam algo à trama.

O passado e o presente fazem um diálogo na figura de Madeleine (na maturidade interpretada por Catherine Deneuve) e sua filha, Vera (Chiara Mastroianni, filha da atriz com Marcello Mastroianni). A moça, de certa forma, sofre com as escolhas equivocadas da mãe ao longo da vida. Ela mais parece fadada a amar e não ser amada, a sempre se apaixonar pelo homem errado. O mais recente é Henderson (Paul Schneider), músico norte-americano gay radicado na Europa.

Mas Vera também tem um affair com um colega de trabalho, o professor Clément (Louis Garrel, presença constante nos filmes de Honoré).

E o que Vera faz enquanto ama, não é amada e sofre? Ela canta, é claro. Canta porque está apaixonada, porque não é correspondida, porque quer conquistar seu amado gay. Assim, Honoré coloca seus personagens numa ciranda de amores e (auto)enganações quase sem fim.

O pai de Vera volta para França, agora interpretado pelo cineasta tcheco Milos Forman, e novamente quer ser amante de sua ex-mulher que, mesmo casada com François (Michel Delpech), não resiste e se entrega, mas não abre mão de seu casamento. É um círculo vicioso a que estes personagens se submetem.

VEJA TRAILER LEGENDADO DE "BEM AMADAS"

As canções de Alex Beaupain (também responsável pela trilha de "Canções de Amor", entre outros de Honoré) tentam traduzir em versos e acordes os sentimentos, com algumas músicas interessantes. Mas não há uma luz no fim do túnel para quem ama em "Bem Amadas" (é preciso tomar o título com uma pitada de ironia, porque ninguém, muito menos mãe o filha, é realmente amado aqui). Tudo isso seria até compreensível não fosse o caminho punitivo e moralista da narrativa.

Amar é sofrer, diz a sabedoria popular. Amar num filme de Honoré é sofrer e ser punido por isso. Nenhum personagem sai incólume, nem o infiel, nem o apaixonado, nem o marido devotado. Tomara que aquele outro ditado popular seja verdadeiro e que, com sua cantoria, os personagens espantem seus males - afinal, é só isso que lhes resta.

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb