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"Procura-se um Amigo..." extrai comédia romântica de filme-catástrofe

Cena de "Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo" - Divulgação
Cena de "Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo" Imagem: Divulgação

Alysson Oliveira

Do Cineweb*

30/08/2012 14h44

O que se espera de um filme sobre o apocalipse? Destruição, gente morrendo, não sem antes se arrepender de seus pecados? Explosões, correria, gritaria e uma dose de catarse? "Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo", que estreia na sexta-feira (31), vai na contramão desses clichês ao fazer uma leitura intimista do dia do juízo final que, claro, não acontece como na Bíblia.

Longa é espécie de versão doce para "Melancolia", de Lars von Trier

  • Divulgação

    Keira Knightley em cena de "Procura-se amigo para o Fim do Mundo"

O longa, escrito e dirigido pela estreante Lorene Scafaria, pode ser lido como uma espécie de versão norte-americana de "Melancolia", para o bem ou para o mal. Subtrai-se qualquer densidade que há no filme do dinamarquês Lars von Trier por risadas numa comédia romântica agridoce - talvez, doce demais para as possibilidades que se abrem e que a diretora não explora.

Faz sentido que as pessoas fiquem desesperadas em busca de amor e de redenção, ou que se reduzam à condição animal, seguindo seus instintos primitivos. Mas, no filme, o mundo está a caminho da destruição apenas para que Dodge (Steve Carell, de "Um divã para dois") reencontre o prazer de amar e possa melhorar a sua vida – embora todo esse conceito, na conjuntura de mundo apresentada, se manifeste tarde demais.

Já se sabe que a Terra está com os dias contados quando ele conhece sua vizinha boêmia Penny (Keira Knightley, de "Um método perigoso") que acaba de brigar com o namorado (Adam Brody) e tem hábitos estranhos como dormir por dias e carregar para onde vai alguns de seus mais preciosos discos de vinil, sua companhia para o dia em que o asteroide Matilda atingir a Terra.

Essa relação entre os protagonista se abre aos poucos – e enquanto existe a negociação e a desconfiança entre eles, o filme é mais interessante, abrindo caminhos que poderia percorrer, mas que desiste para optar pelo óbvio.

A química entre os protagonistas ajuda e Carell – como em filmes como "O virgem de 40 anos", "Eu, meu irmão e nossa namorada" e "Amor a toda prova" – parece talhado para esse tipo de personagem: o sujeito de bom coração, mas um tanto bobão que precisa de um tratamento de choque para despertar.

As pessoas que cruzam o caminho da dupla – como um caminhoneiro que lhes dá carona, um ex-namorado de Penny que construiu um abrigo com comida e armas e espera contar com ela para repovoar a Terra – trazem outras facetas de como as pessoas enfrentam esse momento drástico. São figuras interessantes que entram e saem sem deixar uma marca muito forte - embora seus veículos se tornem úteis para os protagonistas.

A sacarina de "Procura-se um Amigo..." não é bem a resposta mais viável para o niilismo de "Melancolia" – até porque é covardia comparar os dois filmes. Enquanto von Trier é um cineasta experiente, com ideias sólidas e um projeto de cinema, Scafaria dá os seus primeiros passos. Acerta em alguns, erra em outros.

TRAILER DE "PROCURA-SE UM AMIGO PARA O FIM DO MUNDO"

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