Ainda "vampiro", Robert Pattinson suga almas no drama pós-moderno "Cosmópolis"
Escalar Robert Pattinson, o vampiro da série "Crepúsculo", como protagonista de "Cosmópolis" passa a fazer muito sentido ao se conhecer o personagem Eric Packer, um verdadeiro sugador de almas, cuja essência foi tomada pelo dinheiro há muito tempo.
Capitalismo tardio pós-moderno
Britânico Robert Pattinson volta às telas na pele de um multimilionário manipulador e sedutor
No primeiro roteiro que David Cronenberg escreve desde "eXistenZ" (1999), o cineasta canadense adapta o romance homônimo do norte-americano Don DeLillo -- uma espécie de "Ulysses" do capitalismo tardio da pós-modernidade, com relações humanas transformadas em mercadorias até o ponto de deixarem de ter qualquer tipo de valor, especialmente o financeiro.
Boa parte do dia de Eric acontece dentro de sua limusine, de onde comanda negociações. A linha que conduz a narrativa é o desejo do protagonista de cortar o seu cabelo no outro lado da cidade.
Enquanto está preso no trânsito recebe assessores dentro do veículo como o chefe de tecnologia, interpretado por Jay Baruchel, e um analista financeiro, vivido por Philip Nozuka. As raras saídas de dentro do automóvel são para encontrar a amante -- papel de Juliette Binoche -- ou para fazer um exame de próstata. Ao seu redor, as manifestações dão pistas sobre como está o mundo real. Pela janela do carro, Eric vê um grupo de manifestantes que usam ratos falsos como mascotes, ou um encontro com sua mulher, Elise (Sarah Gadon).
"Cosmópolis" é mais calcado em diálogos que expõem ideias do que em ação propriamente dita. As falas e representações criadas por DeLillo vão, aos poucos, encontrando seu correspondente visual nas imagens de Cronenberg.
Eric é a personificação do mundo pós-moderno -- a atual era humana -- no qual se mede o valor de uma pessoa pelo seu grau de consumismo e capacidade de acumular capital. Nesse mundo, ele é soberano, apesar de ter 28 anos.
A confinação do personagem ao carro traz ao mesmo tempo um sentimento de intimidade e frieza -- quem o conhece bem, talvez queira distância.
Já o personagem de Paul Giamatti funciona como a antítese completa de Eric: gorducho, infeliz, sem dinheiro, ou como os norte-americanos facilmente rotulariam: um perdedor.
Cronenberg mantém um distanciamento em relação ao mundo do protagonista, um lugar que se encerra no olhar vago, que apenas observa enquanto é tragado. A pessoa interpretada por Pattinson traz à memória o personagem Debra Kara Unger, do filme "Crash -- Estranhos Prazeres", do mesmo diretor. Trata-se de um olhar sem alma de um vampiro cuja existência se resume a sugar a energia das pessoas.
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