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Impacto na cultura brasileira é reavaliado com sucesso no documentário "Tropicália"

Cena do documentário "Tropicália", de Marcelo Machado - Divulgação
Cena do documentário "Tropicália", de Marcelo Machado Imagem: Divulgação

Neusa Barbosa

Do Cineweb*

13/09/2012 10h58Atualizada em 14/09/2012 02h41

Muito já foi falado e escrito sobre o Tropicalismo, movimento que mudou profundamente não só a música como a cultura brasileira no final dos anos 1960, revelando nomes de alguns dos, maiores ídolos de nossa cultura como Caetano Veloso e Gilberto Gil. Interrompido pela ditadura militar, o período é revisitado no documentário "Tropicália", de Marcelo Machado, que avalia as manifestações artísticas entre 1967 e 1969.

  • Caetano Veloso, um dos símbolos da Tropicália, movimento detalhado no documentário homônimo

Quase cinco décadas depois do auge do furacão, o filme encontra material para repensar o movimento, indo ao encontro de seus principais participantes e também de suas raízes e precursores.

O longa, que abriu o Festival É Tudo Verdade em março de 2012, consumiu cinco anos de pesquisa e foi bem-sucedido em vários aspectos. Um deles, fugir ao tom professoral sem deixar de ser informativo, tornando possível a novas gerações ter uma visão clara de um período que não viveram. Para quem testemunhou, é como rever a trilha sonora da própria vida, pois não falta emoção em vários pontos do relato.

O extenso tempo dedicado à produção permitiu façanhas como localizar, nos vastos e imprevisíveis arquivos do mundo, imagens inéditas de figuras tão midiatizadas quanto Caetano Veloso e Gilberto Gil, cujo registro era até agora desconhecido dos próprios personagens.

Um exemplo foi a participação dos dois artistas no Festival da Ilha de Wight, na Inglaterra, em 1970. Caetano, já no exílio e após meses de prisão, canta a canção "Shoot me Dead", acompanhado pelo escritor Antonio Bivar no pandeiro.

O maior acerto do filme, que tem roteiro do próprio diretor e de Di Moretti, é justamente a inserção do Tropicalismo em seu contexto, com o parentesco em relação a outras manifestações da mesma época sendo traçado.

É o caso do Cinema Novo, que produziu diretores como Glauber Rocha e filmes como "Terra em Transe", e da iconoclastia do diretor teatral José Celso Martinez Corrêa, em montagens transgressoras como a de "O Rei da Vela", de Oswald de Andrade.

Também é possível citar o trabalho do artista plástico Hélio Oiticica - a quem se deve o nome "Tropicália", título de uma instalação vista no Museu de Arte Moderna carioca e que batizou a canção de Caetano Veloso em torno da qual se construiu o disco "Tropicália ou Panis et Circensis", espécie de manifesto musical de sua época.

O documentário também demole equívocos, como uma suposta rixa dos tropicalistas contra Roberto Carlos na época da Jovem Guarda. Na verdade, o que fica evidente é a centrífuga verdadeiramente antropofágica, para citar o termo cunhado com tanta felicidade por Oswald de Andrade, a que recorreram os tropicalistas, mesclando entre suas influências os sons dos pífaros nordestinos e as guitarras elétricas dos Beatles.

"Tropicália" também acerta na preocupação com um visual criativo em suas vinhetas e passagens, intercalando suas imagens preciosas, construindo novos sentidos em torno de um tema sobre o qual parece haver ainda tanto a dizer. Assistir aos comentários de seus participantes revendo o passado contribui para delinear com mais nitidez um retrato de época que é artístico, político, mas também afetivo. O Tropicalismo cala fundo em tudo o que somos hoje.

*As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

VEJA TRAILER DO DOCUMENTÁRIO "TROPICÁLIA"