Com Vincent Cassel, "O Monge" adapta novela gótica para discutir crenças e maldições
O diretor francês Dominik Moll não é um cineasta para todos os gostos. Seus filmes "Lemming - Instinto Animal" e "Harry, que Veio Para Ajudar" causam certo estranhamento na plateia ao arrancar o que há de mais bizarro na superfície da classe média em seus thrillers psicológicos. Razão pela qual foi comparado -- por críticos mais entusiasmados em 2005 -- a nomes como Alfred Hitchcock e Claude Chabrol.
SOBRE TENTAÇÃO E PENITÊNCIA
Geraldine Chaplin, neta de Charles Chaplin, atua no drama de Dominik Moll baseado em novela gótica
Desta vez o francês, de origem alemã, roteirizou e dirigiu "O Monge", baseado em uma das mais transgressoras novelas góticas do século 18, escrita pelo inglês Matthew Gregory Lewis (1775 - 1818). Moll extrai muito pouco do livro, atitude bem diferente das adaptações cinematográficas do diretor espanhol Francisco Lara Polop ("El Fraile", de 1990) e do surrealista grego Adonis Kyrou ("El Monje", de 1972, com roteiro de Luis Buñuel). O filme estreia nesta sexta-feira (21) nos cinemas de São Paulo.
O cineasta desprezou o conteúdo crítico e antipapista da história de Lewis para focar no drama vivido pelo monge capuchinho Ambrosio (Vincent Cassel, de "Cisne Negro"). Abandonado na porta de um mosteiro espanhol ainda bebê, no início do século 17, o protagonista torna-se, quando adulto, o mais fervoroso e penitente monge de sua congregação.
Com ares de santo, as virtudes que prega em inflamados sermões servem de exemplo para todo o vilarejo, que o enxerga com admiração histérica. Apegado a suas crenças, não sente nenhuma piedade mesmo quando descobre a gravidez de uma freira e a entrega à madre superiora (participação especial de Geraldine Chaplin) para um sabido infortúnio.
No entanto, a chegada do monge mascarado Valerio ao seu mosteiro, faz a abnegação e devoção de Ambrosio serem colocadas em xeque. Trata-se, na verdade, de uma mulher (Déborah François, de "A Criança"), que tentará Ambrosio.
Em um efeito dominó que levará a história a um desfecho trágico, Ambrosio passará por uma transformação provocada pelo próprio demônio. Tentação, luxúria, culpa e penitência estão no caminho do monge, com espaço até mesmo para um matricídio.
Superficial, embora o próprio texto-base também tenha sido assim considerado, o filme contém um pouco das bizarrices tão caras a Dominik Moll. O diretor monta uma história repleta de peças soltas e um tanto enigmáticas que, no fim, se encaixam, mas não de forma hermética.
Os efeitos visuais concebidos pelo competente Jérôme Fournier, de "Watchmen", e fotografia de Patrick Blossier (de "Amém") enobrecem o filme, que ainda conta com a destreza de Alberto Iglesias, conhecido compositor das trilhas sonoras dos filmes de Pedro Almodóvar e de "Lúcia e o Sexo" (2001).
No final da projeção de "O Monge" também é possível lembrar um pouco de "Anticristo" (2009), de Lars von Trier. Afinal, mesmo as visões mais agnósticas e ateias podem aceitar o poder do sobrenatural, mesmo que seja apenas como uma força psicológica.
*As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb
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