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"Boca" faz biografia do bandido Hiroito Joanides e resgata memória de centro velho de SP

Daniel de Oliveira vive papel do bandido Hiroito Joanides em "Boca", estreia de sexta (28) em SP - Divulgação
Daniel de Oliveira vive papel do bandido Hiroito Joanides em "Boca", estreia de sexta (28) em SP Imagem: Divulgação

Neusa Barbosa

Do Cineweb*

27/09/2012 10h01Atualizada em 28/09/2012 03h39

A cinebiografia "Boca", sobre Hiroito de Moraes Joanides, não deixa de ser um cuidadoso retrato de um ambiente e de uma época. Dirigido por Flávio Frederico, o longa conta a história de um dos mais famosos criminosos da história de São Paulo. A estreia da produção nacional está prevista para esta sexta-feira (28), apenas na capital paulista.

CENTRO VELHO DE SP RESGATADO

  • Divulgação

    Longa de Flávio Frederico remonta a atmosfera de uma região na capital paulista estigmatizada como ambiente de criminalidade, meretrício e drogas

Pronto há dois anos e premiado em dois grandes festivais nacionais -- Festival do Rio de 2010 e Cine PE de 2012 --, o drama custou a chegar aos cinemas brasileiros.

Ironicamente, "Boca" foi distribuído no exterior para 15 países antes de retornar ao Brasil, revelando o gargalo do circuito cinematográfico nacional, que afeta particularmente a produção local.

Com interpretação empenhada de Daniel de Oliveira na pele de Hiroito, o filme foi roteirizado por Mariana Pamplona e pelo próprio diretor e foi feito a partir de uma autobiografia do personagem.

O longa traça o perfil de um homem violento e contraditório. Filho de uma família de origem grega e de um pai que admirava o último imperador japonês, Hiroito teve boa formação cultural. Mesmo após a entrada precoce na vida do crime, o personagem continuou como fiel fã de literatura, com preferências que iam de Charles Baudelaire a Jack London.

A trajetória apresenta paralelos com as tragédias gregas, como a acusação de que teria assassinado o próprio pai -- o que ele sempre negou. Mas foi na chamada Boca do Lixo, no centro velho da capital paulistana, que Hiroito estabeleceu sua fama, dominando a lucrativa exploração do baixo meretrício e do tráfico de drogas da região com um estilo impiedoso para lidar com os rivais e inimigos. Vários assassinatos rechearam sua ficha policial, que se estendia por dezenas de páginas.

Filmado em boa parte no centro histórico de Santos, amparando-se na bela fotografia de Adrian Teijido, "Boca" define os limites do mundo claustrofóbico de Hiroito, desfrutando de luxo em sua casa ao lado da mulher e ex-prostituta Alaíde (Hermila Guedes, de "O Céu de Suely"), mas também vivendo boa parte do tempo como fugitivo.

Na pele do delegado Honório (Paulo César Pereio), cristaliza-se a figura de um policial corrupto, que prefere usufruir dos frequentes subornos a prender Hiroito -- o que faz, de vez em quando, para manter as aparências.

O auge e declínio do personagem faz de "Boca" um filme de perfil. Belas sequências visuais, como a que retrata Hiroito quando menino observando a versão adulta pela janela de um automóvel, são particularmente eficientes para humanizar o personagem, sem satanizá-lo ou muito menos endeusá-lo.

Flávio Frederico conseguiu resgatar -- mesmo com ficção -- o acervo rico de histórias que ainda assobram o centro velho de São Paulo, assim como fizera durante seu primeiro longa: "Urbânia"(2001).

*As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

VEJA TRAILER DE "BOCA", COM DANIEL DE OLIVEIRA