Documentário "Onde a Coruja Dorme" diverte com malandragem do sambista Bezerra da Silva
O jeito malandro foi sempre a marca registrada do cantor e compositor Bezerra da Silva. Era seu tipo de humor, mas não se tratava de uma mera piada, nem de recurso de marketing.
Pessoa simples, sem banca e de percepção afiada, o pernambucano radicado no Rio de Janeiro desfrutava da intimidade dos habitantes comuns do morro. E, ao invés de meramente retratá-los nas letras de suas músicas, convivia com eles e costumava revelar os sambas que eles faziam -- ainda que tendo profissões como técnico de geladeira, encanador, carteiro ou removedor de cadáveres.
O documentário "Onde a Coruja Dorme", que estreia em São Paulo, Rio, Minas Gerais, Bahia, Brasília e Pernambuco nesta sexta-feira (2), torna-se o veículo para transmitir essa espécie de filosofia de trabalho comunitária de Bezerra, definindo o território de sua inspiração sem pose.
Por essa convivência estreita com personagens como Tião Miranda, Pedro Butina, Claudinho Inspiração, além de parceiros como Walmir da Purificação, 1000tinho e Adezonilton, esboça-se uma postura irônica e pragmática diante da vida como ela é, onde são frequentes figuras como o malandro, o otário, o valentão, o caguete da polícia.
Essa intimidade com a vida real nos morros cariocas não rendeu apenas a merecida popularidade ao intérprete de canções debochadas como "Se Gritar Pega Ladrão", "Cobra Criada" e "Sequestraram Minha Sogra". Muitas vezes, Bezerra também foi tachado de "cantor de bandidos" e acusado de fazer em suas letras "apologia à bandidagem".
Músicas como "Tem Coca Aí na Geladeira", "Overdose de Cocada" e "A Fumaça Já Subiu pra Cuca" revelavam que ele não era nem fingia ser santo. Por conta disso, teve lá seus problemas com a polícia, compartilhando a sorte de tantos de seus amigos e parceiros.
A personalidade marcante de Bezerra é recuperada com expressivo material de arquivo, entrevistas nas quais ele deixa claro sua consciência de quem é e do que fazia muito bem: ser autêntico. O compositor esnobava a intelectualidade, garantindo que, devido ao domínio de uma linguagem cifrada no morro, se quisesse, ninguém entenderia seu jargão. Era um dos poucos a conhecer por dentro a língua secreta do povão.
Dentro do humor aparentemente inesgotável, ainda que diante dos tropeços e reviravoltas da sorte, ele demonstra também uma certa amargura. "Amor, nunca tive. Mas, como todo mundo, fui corno e tive sogra". Típica "filosofia bezerriana".
*As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb
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