Com direção de Marcelo Gomes, "Era uma vez eu, Verônica" celebra amor e liberdade feminina
Um dos mais conhecidos e premiados cineastas de Pernambucano, Marcelo Gomes parte para uma jornada dentro do coração feminino em "Era uma vez eu, Verônica", terceiro longa do diretor. A trama narra a história da médica recém-formada que dá nome ao filme, interpretada com intensidade pela magnética atriz Hermila Guedes. O filme vai estrear nos cinemas nesta quinta-feira (15).
O filme venceu sete prêmios no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro: melhor filme (dividido com "Eles voltam", de Marcelo Lordello), ator coadjuvante (W.J. Solha), fotografia (Mauro Pinheiro Jr.), roteiro (Marcelo Gomes), trilha sonora (Karina Buhr e Tomaz Alves Souza), júri popular e o Troféu Vagalume (melhor filme do projeto Cinema para Cegos).
É muito raro uma mulher encarnar a incerteza diante da vida, a dúvida sobre estar aqui e agora -- uma característica que não é exclusiva do cinema brasileiro. Por acaso, a protagonista está no Recife, solteira e morando com o pai (W. J. Solha), com quem mantém uma relação extremamente amistosa e afetiva. Recém-formada como médica, o sonho de sua vida, Verônica inicia uma carreira no ramo da psiquiatria.
Todos estes elementos alimentam sua paixão e suas incertezas. No cotidiano, Verônica vive tudo o que deseja, com muita liberdade. A personagem é livre inclusive para manter as relações que quiser, com homens como Gustavo (João Miguel), que procura estreitar o relacionamento.
Verônica não quer, nem sabe ainda se vai mesmo se apaixonar. A protagonista diz não saber se seu coração é de pedra, contrariando a cobrança social imposta a qualquer mulher ao transgredir o padrão romântico.
Só por ter coragem de visitar este lugar da individualidade feminina, Marcelo Gomes já merece elogios. Ter escolhido Hermila Guedes, a estrela de "O Céu de Sueli", de Karim Ainouz, é outro tremendo acerto. Poucas atrizes são capazes de enamorar a câmera e sustentar tão intimamente uma personagem volátil, carnal, delicada e sutil.
Talvez este filme seja uma transição na carreira do diretor, que vem de trabalhos considerados mais radicais como "Cinema, Aspirinas e Urubus" (2005) e "Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo" (2009), este último codirigido por Karim Ainouz.
Já "Era Uma Vez Eu, Verônica" vale pelo momento que flagra de uma personagem que -- parafraseando Caetano Veloso -- está no ar antes de mergulhar.
TRAILER DE "ERA UMA VEZ EU, VERÔNICA", DE MARCELO GOMES
As falas dos pacientes deprimidos, desajustados, que procuram a jovem doutora no hospital, completam a narrativa e evitam que ela se torne centrada demais na figura de sua protagonista. Ao mesmo tempo, Verônica tenta se encaixar no mundo, procurando, tentando, esperando um novo vento. As cenas médicas foram gravadas dentro de um hospital público de Recife em pleno funcionamento.
Além de revelar uma complexa e sensível personagem feminina, o filme se torna um poderoso contraponto à vulgarização da sensualidade feminina, disseminada pelas "cachorras" e "periguetes", que alimentam uma mentalidade reacionária e machista. Por isso, no mínimo, "Era Uma Vez Eu, Verônica" precisa ser apreciado com mais apreço.
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