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Brad Pitt e Ray Liotta estrelam filme de gângsters e cinismo em "O Homem da Máfia"

Cena do filme "O Homem da Máfia", de Andrew Dominik, estrelado por Brad Pitt - Imagem Filmes / Divulgação
Cena do filme "O Homem da Máfia", de Andrew Dominik, estrelado por Brad Pitt Imagem: Imagem Filmes / Divulgação

Neusa Barbosa

Do Cineweb*

29/11/2012 16h21Atualizada em 29/11/2012 21h46

As afinidades entre a política, o mercado financeiro e os gângsters são tratadas com cinismo no drama policial "O Homem da Máfia", nova parceria entre o diretor neozelandês Andrew Dominik e o astro Brad Pitt. A dupla se reúne novamente após o trabalho em "A Morte de Jesse James pelo Covarde Robert Ford" (2007). Pitt protagoniza e produz o filme, que é dirigido e roteirizado por Dominik.

O ponto de partida de Dominik é novamente um livro. "Cogan's Trade", de George V. Higgins, serviu como base para um enredo ambientado em 2008.

A assinatura visual do filme, que concorreu à Palma de Ouro em Cannes 2012, é inconfundível. Valendo-se do recurso da câmera lenta em cenas de violência -- um contraste acentuado pelo uso de músicas românticas -- e diálogos inusitados, Dominik compôs mais uma obra que ultrapassa o filme de gênero. Para completar, o elenco é o primeiro ponto forte de "O Homem da Máfia".

Dois ladrões pés-de-chinelo, Markie (Scoot McNairy) e Russell (Ben Mendelsohn), assaltam uma casa de pôquer ilegal, a partir da dica de um amigo, o ex-presidiário Johnny Amato (Vincent Curatola). O golpe tem tudo para ser o crime perfeito porque a culpa deve cair nas costas de Markie Trattman (Ray Liotta), o administrador da casa de jogo. Trattman fora o mandante de um outro assalto ali mesmo anos atrás.

Embora todos os espertos do submundo saibam da culpa de Markie no golpe do passado, ele não pagou por isso -- nada foi provado, ele levou uns sopapos e ficou por isso mesmo. Mas, na suposta reincidência, ele vai pagar o pato, até porque esse tipo de roubo paralisa por um bom tempo todo o lucrativo circuito do jogo ilegal.

Furiosos com o prejuízo, os chefões querem punição exemplar. Primeiro para Markie. Assim, o "motorista" (David Jenkins), em nome dos mafiosos, convoca o melhor matador da praça: Dillon (Sam Shepard). Como ele não pode ir, envia em seu lugar o não menos respeitado Jackie Cogan (Brad Pitt).

A terceirização do crime não pára por aí. Como Cogan é conhecido de Johnny Amato e ele detesta matar conhecidos -- "fica emocional demais" --, chama um outro colega para este serviço: Mickey (James Gandolfini, de "Família Soprano").

VEJA TRAILER LEGENDADO DE "O HOMEM DA MÁFIA", COM BRAD PITT

Todas as longas conversas para o planejamento de roubos e mortes evidenciam o modus operandi de uma economia paralela em que matadores sentem tanta piedade por suas vítimas quanto os tubarões do mercado financeiro demonstraram pela apropriação das economias de investidores desavisados na crise mundial de 2008.

O tempo todo as televisões ligadas em bares e lanchonetes mostram vários trechos da primeira campanha eleitoral de Barack Obama para a presidência dos Estados Unidos, contra John McCain. A política é vista com total desdém por todos os envolvidos. O matador inteligente e implacável vivido por Brad Pitt tem as frases mais eloquentes de uma história totalmente niilista sobre os famosos ideais da nação norte-americana.

Nisso, também, "O Homem da Máfia" mostra ser bem mais do que apenas um filme de gângsters, embora a lista de cadáveres pelo caminho não seja nada desprezível.

*As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb