Confuso, "Holy Motors" narra fábula bizarra sobre cinema e mundo contemporâneo
Em "Cosmópolis", de David Cronenberg, o protagonista passa o dia inteiro dentro de uma limusine atravessando Nova York para cortar o cabelo. A certa altura, ele diz: "Sempre me pergunto para onde vão as limusines à noite". A resposta pode estar em outro filme -- como "Cosmópolis", também concorrente no Festival de Cannes de 2012, mas bastante inferior ao do diretor canadense -- que estreia no circuito brasileiro neste final de semana.
Trata-se de "Holy Motors", do francês Léos Carax, um filme que sugere a suspensão da realidade convencional. Mais do que isso, pede uma entrega sem restrições ao seu universo bizarro, no qual as relações humanas são apenas encenadas e não de fato vividas. É uma narrativa que se contenta em ser construída em cima de repetições -- não a mesma cena, mas situações com o mesmo significado.
Monsieur Oscar (Denis Lavant) é o protagonista, um personagem que se reinventa ao longo do filme. Entra na pele de várias pessoas, desde uma mendiga idosa a uma figura curiosa que vive nos esgotos de Paris, conhecido como Merde -- já apresentado no segmento dirigido por Carax no longa coletivo "Tóquio", de 2008.
Ele passa o dia em uma limusine branca, dirigida por Celine (Edith Scob) pelas ruas de Paris. No carro, cujo interior mais parece um camarim de teatro, o protagonista tem figurinos, maquiagem, espelho. Todos materiais que permitem a transformação em outras pessoas.
Para cada novo trabalho, Monsieur Oscar se caracteriza apropriadamente. O protagonista recebe dentro de uma pasta as informações necessárias para desempenhar a nova função. Qual o real significado de seu trabalho? Conforto? Confronto? Catarse? As razões variam conforme o freguês. Mas para o diretor e roteirista Carax isso pouco importa. Sua investigação parece olhar para o grotesco, para como este se relaciona com o belo.
Nas cenas envolvendo Merde, uma criatura que mais parece um duende deformado sai do esgoto dentro de um cemitério, aterroriza a todos, rouba e come flores até chegar a uma sessão de fotos que ocorre no local, raptando a modelo (Eva Mendes). Mais tarde, dentro de uma caverna, transforma o figurino da garota, usando uma burca improvisada para cobrir o rosto dela.
Carax não fazia um longa desde 1999, quando assinou "Pola X". "Holy Motors", ao final, mais parece um rascunho de um amontoado de repetições de uma mesma ideia do que a execução propriamente dita. É difícil mesmo encontrar bons momentos. A alegoria a que o filme se propõe parece não encontrar seu interlocutor. De que ele tanto fala? Do cinema? Da representação? Da vida? De tudo isso?
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