Documentário sobre Marcelo Yuka faz retrato honesto do músico e ativista
A certa altura de sua vida, Marcelo Yuka recebeu um conselho de Wally Salomão: "Siga as setas. Aquelas que estão debaixo do seu nariz". Não muito certo do que isso poderia ser, o músico e ativista aceitou a sugestão do poeta e segue procurando essas setas.
O documentário "Marcelo Yuka no Caminho das Setas", de Daniela Broitman, acompanha o trabalho do músico e ativista e os caminhos de sua vida dele após o ferimento à bala depois de tentativa de assalto no Rio de Janeiro, em novembro de 2000. O incidente o deixou paraplégico.
Premiado no Festival do Rio de 2011, o documentário é delineado pelos pensamentos do ex-baterista do Rappa. Ativista desde muito antes do acidente, Yuka sempre compôs músicas de cunho social que falam sobre racismo, violência e desigualdade social. "O que mudou a minha vida foi a leitura. E, embora eu não seja negro, eu tive meu apartheid social", diz o artista no filme.
É essa inquietação que o move, levando-o a se apresentar em lugares como um presídio ou uma praia. Ex-baterista do Rappa, uma das bandas mais importantes da década de 1990 no Brasil, Yuka é um grande letrista -- o que lhe trouxe mais destaque e retorno financeiro, gerando desconforto e rompimento com o grupo.
O filme não se esquiva de assuntos espinhosos como esse. Imagens de arquivo -- captadas ao longo da última década -- reconstroem a trajetória de Yuka. Depois do Rappa, ele montou uma banda chamada F.U.R.T.O. e se engajou ainda mais, o que parece ter ajudado nos momentos mais difíceis -- que não foram poucos.
Felizmente, o longa passa longe de qualquer emotividade barata, afinal, o próprio retratado não queria um filme de lágrimas. "Marcelo Yuka no Caminho das Setas" é uma celebração da resistência e da necessidade de projetos sociais, até na questão das células-tronco ou do desarmamento.
TRAILER DO DOCUMENTÁRIO "MARCELO YUKA NO CAMINHO DAS SETAS"
Um dos depoimentos mais contundentes de Yuka é quando ele diz que gostaria de procurar o dono da empresa fabricante da arma que o atingiu. "Primeiro, eu iria perguntar por que não se divulga que o capital deles é misto e parte vem dos Estados Unidos. Depois, ia pedir para ele me ajudar a contar quantos tiros eu tenho nas costas e me dissesse qual o material usado nos tiros", diz o músico no longa.
Este é um documentário poderoso que, ao contar a história de um homem, é capaz de englobar várias esferas da vida dele e até de outras pessoas -- e, com isso, ampliar seu poder de comunicação.
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