Vencedor de Globo de Ouro e indicado ao Oscar, "Amor" contempla a dignidade na velhice
Não haveria dupla de atores veteranos mais qualificada do que Emmanuele Riva, 85 anos -- a musa de clássicos como "Hiroshima, meu Amor" (1959), de Alain Resnais -- e Jean-Louis Trintignant, 81 anos -- intérprete do mítico "Um Homem, Uma Mulher" (1966), de Claude Lelouch -- para encarnar o casal que está no centro de "Amor", de Michael Haneke.
Trata-se de uma história de profundo amor. Mas o diretor austríaco, que assina o roteiro, não está neste mundo para fazer romances adocicados. O que ele realmente quer tratar é da dignidade da velhice e do direito de escolher a própria morte quando a saúde e a sanidade se esgotam.
A abordagem sem concessões, característica que permeia todo o trabalho do diretor de "A Fita Branca" (Palma de Ouro de Cannes em 2009) e "Violência Gratuita" (1997), faz de "Amor" um filme difícil de assistir. Mas, como sempre, se o mergulho em suas histórias costuma render nós na garganta, habitualmente a recompensa está na inteligência e sensibilidade adultas.
A última coisa que Haneke procurava era um filme sentimental e foi essa a diretriz que o rigoroso cineasta passou aos atores, como revelou Emmanuele Riva na coletiva de Cannes em 2012. A pré-estreia mundial do longa aconteceu durante o festival e, a partir daí, o longa iniciou um vertiginoso trajeto pelas principais premiações do mundo.
Antes de deixar a França, "Amor" rendeu a segunda Palma de Ouro da carreira de Haneke e cinco surpreendentes indicações ao Oscar 2013, caso raro em se tratando de uma produção não-americana.
Há muito afastado do cinema (seu último filme como ator é de 2003, "Janis and John") e dedicado ao teatro, Trintignant foi convencido por Haneke a voltar a atuar na tela.
Ator de Ettore Scola, Dino Risi, Krzystof Kieslowski e todos os maiores de sua geração, Trintignant domina o filme simplesmente de modo magnífico, natural e doloroso, porque esta é a essência de seu papel. Na coletiva, o ator confessou que não foi nada fácil interpretar Georges. Depois do trabalho, ficou esgotado.
Numa história de aparente simplicidade, acompanha-se o cotidiano de um velho casal, Georges e Anne, levando adiante a rotina num apartamento em Paris. O público é cativado pela normalidade de duas pessoas comuns, entretidas com as pequenas tarefas, das compras, da manutenção da casa, da atenção e da paciência com as manias há muito conhecidas um do outro.
TRAILER LEGENDADO DE "AMOR", DE MICHAEL HANEKE
Na primeira parte do filme, constrói-se muito solidamente essa ideia do ninho, da zona de conforto entre duas pessoas que exclui tudo e todos, até mesmo a filha (Isabelle Huppert, atriz habitual do diretor, em trabalhos como "A Professora de Piano").
A doença de Anne quebra este equilíbrio. E se não há muitas surpresas durante o avanço do problema de saúde da personagem, a jornada da família como um todo é temperada por um profundo amor, com o desenrolar das opções à frente deles sendo conduzido com grande respeito a tudo o que sempre foram.
Haneke também nunca uma visão piedosa da velhice. Os personagens poderiam ter outra idade e enfrentar outros desafios. Mas, tanto para fazer as escolhas ligadas aos personagens, quanto para realizar este filme, foi preciso coragem. Este é o sentimento que, finalmente, compartilha também o espectador deste libelo pela liberdade individual, ainda que na situação mais extrema.
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