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Werner Herzog mostra segredos primitivos no filme "Caverna dos Sonhos Esquecidos"

24.jan.2013 - Cena de "Caverna dos Sonhos Esquecidos", documentário de Werner Herzog. - Divulgação / Zeta Filmes
24.jan.2013 - Cena de "Caverna dos Sonhos Esquecidos", documentário de Werner Herzog. Imagem: Divulgação / Zeta Filmes

Luiz Vita

Do Cineweb*

24/01/2013 16h21Atualizada em 25/01/2013 00h51

O documentário "Caverna dos Sonhos Esquecidos", de Werner Herzog, foi a grande sensação da 35ª Mostra Internacional de Cinema paulistana em 2011. Quem perdeu as poucas exibições realizadas na época, terá agora a oportunidade de matar a curiosidade e se deslumbrar com a inesquecível viagem ao centro da Terra conduzida pelo cineasta alemão.

Filmado em 3D (como "Pina", de seu conterrâneo Wim Wenders), o documentário é a única oportunidade que dispomos para conhecer o verdadeiro tesouro arqueológico e artístico contido nas profundezas das cavernas de Chauvet-Pont-d'Arc, em Vallon-Pont-d'Arc, no sul da França.

Fechada à visitação pública, seu acesso é restrito a um número reduzido de pesquisadores. Tal precaução não é exagerada: nas paredes da caverna se encontram desenhos rupestres com aproximadamente 32 mil anos de existência, gravados pelos habitantes primitivos com pedaços de carvão.

Como no filme de Wim Wenders, o 3D se mostrou um grande aliado do espectador. Se em "Pina", os óculos especiais aproximaram ainda mais as belas coreografias de Pina Bausch de nossos olhos, no filme de Herzog temos a sensação de caminhar ao lado da equipe de cientistas e de técnicos de cinema e quase poder tocar as paredes.

Iluminadas pelos técnicos, as figuras surpreendentemente bem conservadas mostram cavalos, rinocerontes, leões das cavernas (que não possuíam jubas), leopardos e até uma única imagem humana -- a parte inferior de um corpo feminino.

Mas, ao contrário dos afrescos romanos descobertos durante os trabalhos de escavação dos túneis de metrô em Roma (mostrados em "Roma", de Federico Fellini), as frágeis imagens não desaparecem ao serem iluminadas. Saltam aos olhos, com grande riqueza de detalhes.

Completamente vedado, abrigado há cerca de 30 mil anos da luz solar, o ambiente é "decorado" por estalactites, que formam cascatas e cortinas de sedimentos minerais, graças às gotas de água que pingam pacientemente há milhares de anos. A pouca iluminação é fornecida apenas pelas luminárias especiais usadas pela equipe de filmagem e pelas lanternas dos pesquisadores. O percurso é narrado de forma contida pelo próprio Herzog, mas nitidamente emocionada.

O diretor lidera apenas três membros de sua equipe técnica. Ao longo do trajeto, ele entrevista os pesquisadores que o acompanham e revela detalhes das técnicas utilizadas na confecção dos desenhos, com pedaços de carvão e à luz de tochas. Em algumas paredes, ficou gravada a palma da mão de um frequentador da caverna, identificado por um dedo torto.

Se para os cientistas, a caverna é um laboratório permanente de estudos, para o cineasta é quase uma catedral, que guarda em seus labirintos escuros uma herança de medos e sonhos de quem chegou antes de nós.

*As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb