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Tom Hooper expõe emoções ao máximo com musical "Os Miseráveis"

Anne Hathaway em cena de "Os Miseráveis", de Tom Hooper - Divulgação
Anne Hathaway em cena de "Os Miseráveis", de Tom Hooper Imagem: Divulgação

Neusa Barbosa

Do Cineweb*

31/01/2013 16h14Atualizada em 31/01/2013 22h16

Indicado a oito Oscars, o musical britânico "Os Miseráveis" projeta uma história recheada de sofrimento, fuga, paixão, renúncia e redenção grandiosa. É um espetáculo para encher, e em alguns momentos quase oprimir, olhos e ouvidos, durante 2 horas e 38 minutos de duração.

A produção concorre nas categorias de melhor filme, ator (Hugh Jackman), atriz coadjuvante (Anne Hathaway), desenho de produção, figurino, maquiagem, mixagem de som e canção ("Suddenly").

A emoção é ligada em chave máxima pelo diretor britânico Tom Hooper ("O Discurso do Rei"), que conta como principal aliado um elenco inegavelmente talentoso e corajoso. Mesmo não sendo cantores profissionais, todos os atores aceitaram cantar ao vivo, acompanhando as melodias executadas por pianistas no set com fones de ouvido.

A escolha, que custou esforço maior a todos os envolvidos, certamente é uma das razões pelas quais o público se sente compelido a entrar nesta admirável ciranda de emoções intensas, não raro debulhado em lágrimas. O enredo é inspirado no romance do autor francês Victor Hugo, que escreveu o livro homônimo em 1862. Já o roteiro parte diretamente de uma adaptação musical concebida em 1985, já traduzida em mais de 20 línguas e assistida por mais de 60 milhões de pessoas em palcos de todo o mundo.

A defesa de um humanismo cristão e da justiça social impregna cada sequência da atribulada jornada de Jean Valjean (Hugh Jackman), condenado a trabalhos forçados por ter roubado um pão para matar a fome de sua irmã.

Depois de uma longa sentença de 19 anos -- alguns acrescentados por tentativas de fuga --, Valjean finalmente deixa o cárcere. Uma libertação que o obriga a se apresentar constantemente à Justiça e que, por conta de sua ficha criminal, na prática o impede de conseguir trabalho.

Perseguido sem tréguas pelo obcecado inspetor Javert (Russell Crowe), Valjean decide escapar deste círculo vicioso. Desaparece no mundo e ressurge, anos depois, com uma nova identidade, já como prefeito e industrial.

Seu destino se liga a Fantine (Anne Hathaway), operária demitida de sua fábrica por um supervisor, que caiu na miséria e na prostituição para sustentar a filha Cosette (quando menina, interpretada por Isabelle Allen). A garota acaba ficando aos cuidados de Valjean, que continua sua fuga, sempre perseguido por Javert.

FANTINE, INTERPRETADA POR ANNE HATHAWAY, É DEMITIDA EM CENA

Quando moça, Cosette (agora vivida por Amanda Seyfried) desconhece a verdadeira história de seu protetor, e se apaixona por Marius (Eddie Redmayne), um dos estudantes envolvidos numa rebelião antimonarquista que caminha para um confronto trágico com os soldados do rei, em 1832.

Seguindo uma dinâmica do excesso, o diretor Tom Hooper aposta nos intensivos rodopios de câmera em torno de cenários bem cuidados, abusando de cenas em primeiro plano, que focam o rosto dos atores, jogando o espectador dentro de cada cena. A cada situação, uma descarga de voltagem máxima que nunca descansa e procura arrancar lágrimas.

Ao mesmo tempo que os grandes temas de "Os Miseráveis" estão presentes -- a luta pela liberdade, a recusa à injustiça, a ética inegociável do protagonista --, nem sempre é possível enxergá-los com toda a clareza por conta do ofuscamento provocado pela intensidade do filme.

Em nenhum momento, o espectador pode usufruir da distância, seja em relação à tragédia ou ao romance. É aí que residem, ao mesmo tempo, a força e a falha desta obra.

*As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

VEJA O TRAILER LEGENDADO DE "OS MISERÁVEIS", DE TOM HOOPER