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"Francisco Brennand" faz retrato intimista do artista pernambucano

Cena do documentário "Francisco Brennand", dirigido por Mariana Fortes - Divulgação / Espaço Filmes
Cena do documentário "Francisco Brennand", dirigido por Mariana Fortes Imagem: Divulgação / Espaço Filmes

Neusa Barbosa

Do Cineweb*

14/03/2013 11h31Atualizada em 14/03/2013 19h59

Vivendo há mais de 40 anos na Oficina Brennand, uma espécie de território particular na várzea do Capibaribe, em Recife, o reservado pintor e escultor pernambucano Francisco Brennand tornou-se uma figura praticamente invisível, escondido atrás de suas obras monumentais.

No ano passado, quando o artista completou 85 anos, ele concordou em romper o isolamento com o mundo para para se tornar o objeto de um documentário que leva seu nome e que foi dirigido por sua sobrinha-neta, Mariana Brennand Fortes. O documentário estreia em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba, Florianópolis e Juiz de Fora.

O filme venceu dois prêmios na 36ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, em 2012: o Prêmio Itamaraty de melhor documentário e o de melhor filme da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema).

O parentesco -- que certamente colaborou para que o discreto artista concordasse com a invasão de sua intimidade -- podia tornar o filme excessivamente condescendente por conta da admiração incondicional pela grandeza da obra do personagem.

Felizmente, o resultado é uma sensível apropriação de parte do mistério deste homem cultíssimo, nascido em 11 de junho de 1927. Nem todos os seus segredos foram revelados, nem mesmo diante da cristalina fotografia de Walter Carvalho -- que preservou o intimismo da luz natural dos corredores da Oficina nas cenas.

Trata-se do retrato possível de um criador ainda no auge de sua potência, que não cessa de questionar seu passado e seu ofício. Brennand ainda guarda uma curiosa interlocução com a morte, que povoa tantos de seus sonhos.

TRAILER DO DOCUMENTÁRIO "FRANCISCO BRENNAND"

Para entrar no universo do tio-avô, a diretora contou com diários que ele mantém há mais de 60 anos, em cujas páginas comparece a intrigante figura do alter-ego Nonato. É a pista de que ao escultor não falta imaginação literária. Quem sabe, uma imaginação do mesmo porte daquela que transborda em suas conhecidas esculturas, retratando figuras antropomórficas, abutres, peixes, soldados, guerreiros indígenas míticos como Atahualpa e Montezuma.

Cercado desses seres, habitantes dos exímios jardins desenhados por Roberto Burle Marx, Brennand exercita diariamente seu engenho, fazendo saltar do barro as formas que desafiam o tempo, mesclando épocas históricas e desfazendo as linhas naturalistas.

O realismo também não lhe é estranho e brota generosamente de suas pinturas -- menos conhecidas do que as esculturas -- que retratam mulheres e expressam o mesmo erotismo presennte em suas cerâmicas.

A narração da atriz Hermila Guedes ("O Céu de Sueli"), representando a voz da diretora, insere uma pegada ficcional numa narrativa que não se pretende definitiva. Por essa opção, torna-se mais fiel ao personagem que procura desvendar.

*As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb