Premiado em Veneza, drama "Pieta" simboliza excessos do capitalismo
Uma religiosidade dessacralizante embala o drama "Pieta", título enganoso para um drama duro, tingido com cores de tragédia grega e assinado pelo sul-coreano Kim Ki-duk. O longa foi o vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza em 2012. O filme estreia em São Paulo, Rio de Janeiro e Recife.
No filme, o nome da famosa escultura de Michelangelo remete a uma dilacerante e profana relação entre mãe e filho, que oculta o mecanismo de uma temível vingança, um dos temas favoritos do possante cinema da Coreia do Sul.
Vencedor do Leão de prata de melhor diretor em Veneza em 2004, com o sutil e intimista "Casa Vazia", Ki-duk muda radicalmente de tom em "Pieta" ao instalar um clima de tensão e impiedade no retrato de um contratado por agiotas, Kang-do (Lee Jung-jin). O jovem é o retrato do mal, pressiona endividados que não honram os pagamentos de empréstimos com juros escorchantes e os força a buscarem indenizações por meio de mutilações. O dinheiro oriundo da trama é apropriado pelos credores.
A chegada de uma mulher misteriosa, Mi-sun (Cho Min-soo), que diz ser mãe do rapaz, rompe o padrão dessa rotina doentia. Kang-do não aceita facilmente a estranha, duvidando do que ela afirma. Seria mesmo sua mãe que o abandonou no nascimento? Por que voltou agora?
Há um clima de suspeita, que a direção precisa de Kim Ki-duk sustenta. A história, nas palavras do diretor durante entrevista coletiva em Veneza, procura abraçar a humanidade -- daí o significado do título -- e também denunciar o capitalismo extremo, do qual o cobrador do filme é um dos algozes.
O tom de tragédia grega que impregna "Pieta" é mantido por uma sucessão de imagens fortes, envolvendo mutilações, estupro e violência contra animais. Mas é uma violência orgânica para montar este universo perverso do filme.
Com este novo trabalho de impacto, o diretor sul-coreano parece estar fazendo o caminho de volta, superando uma depressão que o levou ao afastamento do cinema por três anos, um processo que ele relatou no autodocumentário "Arirang" (2011), inédito no circuito comercial brasileiro.
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