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Novo filme de Alain Resnais brinca com diferenças entre as artes

Neusa Barbosa

Do Cineweb*

11/04/2013 11h45

Alguns diretores veteranos, no cinema e na vida, mantêm intacta ao longo dos anos essa capacidade de filmar como garotos, com energia, curiosidade, inspiração, afeto, humor e criatividade transbordando de cada fotograma. E ainda achando espaço para brincar com a narrativa, borrando as fronteiras entre as artes. Um deles, com certeza, é o nonagenário cineasta francês Alain Resnais.

O premiado diretor de "Hiroshima meu Amor" (1959), "O Ano Passado em Marienbad" (1961) e "Medos Privados em Lugares Públicos" (2006) assina outro primor de inteligência em sua nova comédia dramática, "Vocês Ainda Não Viram Nada", que concorreu à Palma de Ouro no Festival de Cannes 2012. O filme estreia em São Paulo, Brasília e Porto Alegre.

Ocupando-se mais uma vez em revelar a cumplicidade que há entre as artes, ele parte de um roteiro de Laurent Herbiet e Alex Réval, que por sua vez costuram fragmentos de duas peças do autor francês Jean Anouilh (1910-1987), "Eurydice" e "Cher Antoine, ou l'Amour Raté".

TRAILER LEGENDADO DE "VOCÊS AINDA NÃO VIRAM NADA!"

Um dramaturgo, Antoine d'Anthac (Denis Podalydés), morre e determina, como último desejo, que uma trupe de amigos atores autorize ou não uma nova montagem de sua peça, "Eurydice", por um jovem grupo -- que toma extremas liberdades em relação a cenários, figurinos e encenação.

Comovidos com a morte do amigo, os atores atendem ao chamado, juntando-se numa espécie de mansão, que foi a última morada de Antoine. Como sempre nos filmes de Resnais, trata-se de um dos mais refinados elencos de atores franceses que se pode imaginar, formado por Michel Piccoli, Sabine Azéma, Mathieu Amalric, Lambert Wilson, Pierre Arditi, Anne Consigny e vários outros.

Basicamente, sua tarefa será simples: observar, num telão, a filmagem do ensaio realizado pela jovem companhia -- a Compagnie de la Colombe, dirigida na vida real por Podalydés.

  • Divulgação / Imovision

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Autoridade não lhes falta para julgar: todos eles participaram de montagens anteriores da peça filmada e interagem com o que estão assistindo, lembrando trechos de diálogos, revivendo aos pares as situações do enredo, que envolvem um relacionamento de conveniência rompido por um encontro imprevisto, o abandono de um pai, os jogos de mentiras e verdades de uma mulher e a intervenção de um misterioso e satânico personagem.

O artificialismo da situação é delicadamente rompido aos poucos, na medida em que os atores, de diferentes gerações, encarnam os mesmos papeis, evidenciando as diversas nuances que cada um imprime às mesmas cenas.

Mediante este recurso, é como se cada espectador fosse capturado pelas imagens e desembarcasse na plataforma de uma estação ferroviária ou num quarto de hotel que são os cenários principais da trama teatral, a que o cinema acrescenta uma outra dimensão.

Usando seus nomes reais, os atores apagam de vez as fronteiras entre encenação e realidade, entre o passado e o presente, evidenciando essa capacidade do cinema de tudo transpor, tudo poder criar em nome da imaginação. Longa vida, monsieur Resnais!

*As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb