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Premiado, "Apenas o Vento" remonta massacre real de ciganos na Hungria

Neusa Barbosa

Do Cineweb*

25/07/2013 13h58

Vencedor de vários prêmios, inclusive o Urso de Prata (Grande Prêmio do Júri) no Festival de Berlim 2012, o drama "Apenas o Vento", de Benedek Fliegauf, recria o clima de terror depois de uma série de atentados contra populações ciganas ocorridas na Hungria. Com rigor documental, o filme estreia em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Dando rosto e história às vítimas da perseguição étnica, o longa traz como narrativa a historia de uma pequena família, cujo pai (Gergely Kaszás), radicado no Canadá, espera que a mulher Mari (Katalin Toldi), a filha Anna (Gyöngyi Lendvai), o filho Riò (Lajos Sárkány) e o sogro doente (György Toldi) juntem dinheiro para unir-se a ele.

Enquanto isso não acontece, a família se endivida, já que a única fonte de renda vem dos mal-pagos trabalhos de faxineira de Mari, que se desdobra, correndo de um canto para outro. Seu pai fica trancado em casa, enquanto Anna vai para a escola e Riò vagabundeia por caminhos perigosos.

TRAILER LEGENDADO DO FILME "APENAS O VENTO"

O diretor Fliegauf materializa a pobreza e o isolamento da comunidade cigana, que vive nas periferias das cidades, em locais desprovidos de serviços públicos como saneamento e transporte. Suas casas são, quase sem exceção, igualmente precárias. Nelas, as pessoas se amontoam, apavoradas com a ameaça sem rosto representada pelos atentados. Por isso, Riò junta objetos num esconderijo, para onde pensa escapar caso cheguem os matadores.

Atiradores costumam atacar à noite, com armas pesadas e coquetéis molotov, massacrando famílias inteiras, inclusive as crianças. A indiferença das autoridades é notória, como se nota a partir de uma cínica conversa entre dois policiais (Attila Egyed e Laszlo Cziffer), que visitam a casa de uma das vítimas, e são ouvidos, sem saber, por Riò. Na verdade, o que incomoda um deles é apenas que estão "matando as pessoas erradas", ou seja, os ciganos que trabalham.

Sem discurso nem ênfase exagerada, o cineasta húngaro dá o seu recado humanista, criando uma narrativa despojada e límpida, que em alguns momentos lembra o estilo contundente do filipino Brillante Mendoza ("Lola") ou do turco Nuri Bilge Ceylan ("Era uma vez em Anatólia").

*As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb