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Com foco na classe média, "Vendo ou Alugo" tem elenco como ponto forte

Neusa Barbosa

Do Cineweb*

08/08/2013 12h43Atualizada em 08/08/2013 21h40

A comédia "Vendo ou Alugo", de Betse de Paula, procura fazer o público rir de uma história com os pés fincados no imbróglio contemporâneo de um Rio de Janeiro pós-Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).

Marieta Severo e Nathália Thimberg -- veterana de alto quilate que, na tela, interpreta sua mãe -- são dois grandes trunfos de um filme que tem como ponto forte um ótimo elenco. Dele fazem parte também Sílvia Buarque, André Mattos, Marcos Palmeira e o excepcional trio de veteranas Ilka Soares, Carmem Verônica e Daisy Lúcidi, todas dando um show de "timing" cômico.

O filme dá conta de várias nuances do cotidiano de uma família de classe média arruinada, um clã constituído por quatro gerações de mulheres (Nathália, Marieta, Sílvia e Bia Morgana). Elas vivem num casarão em ruínas, herança da bisavó, localizado na beira de um morro, de frente para uma favela tumultuada por tiroteios, apesar das UPPs já terem desembarcado por ali.

Atormentada por dívidas acumuladas, a líder do grupo, Maria Alice (Marieta), esforça-se para vender a casa, a única solução cabível. O enredo estrutura-se em torno dessa tentativa, da qual vão participar um pastor evangélico corrupto (André Mattos), trazido pela empregada; um investidor europeu interessado em explorar o inacreditável interesse de alguns turistas estrangeiros por aventuras perigosas nas favelas cariocas e malandros locais, como Jorge (Marcos Palmeira), que troca favores com a dona da casa, que traduz, por exemplo, de um manual de armas compradas pelos traficantes.

Trailer do filme "Vendo ou Alugo"

O filme de Betse de Paula (de "O Casamento de Louise") acerta especialmente ao deixar fluir a naturalidade de seus atores, que se entregam aos personagens, dando-lhes autenticidade e segurando bem o ritmo das situações, cada vez mais caóticas.

Nem todas as piadas dão certo, o que é até natural esperar numa história assinada por quatro roteiristas, incluindo a diretora, Maria Lúcia Dahl, Julia Abreu e a também produtora Mariza Leão. Ainda assim, é saudável, especialmente num filme dirigido por uma mulher, que as insinuações sexuais sejam maliciosas, irônicas, nunca escatológicas -- como em boa parte das comédias de maior sucesso de bilheteria hoje -- o que não alivia nem um pouco sua munição.

A boa notícia é que "Vendo ou Alugo" se arrisca num outro caminho, se esforça para ser um outro tipo de comédia, que flerta com as antigas chanchadas e as atualiza. A opção seguida pela diretora rendeu frutos como os prêmios no Cine PE em abril. O filme faturou 12 troféus, incluindo melhor filme para o júri e a crítica.

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb