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Feminismo de "Foxfire" encontra ressonância nos movimentos contemporâneos

Alysson Oliveira

Do Cineweb*

19/09/2013 13h50

"Foxfire - Confissões de uma gangue de garotas" é situado nos anos de 1950, mas, ainda que de forma estranha, ressoa bastante atual em sua leitura simbólica.O longa entra no circuito nacional nesta sexta-feira (20).

Baseado em um romance da década de 1990, da norte-americana Joyce Carol Oates (já adaptado para as telas e estrelado por uma Angelina Jolie bem antes da fama), o filme é ?grrr power'- escrito assim mesmo de forma estranha, e combina "girl" (garota) e um aglomerado de erros que expressam os dentes rangendo e a força de quem quer lutar- atitude que caracterizou o feminismo do século passado.

Oates, uma das escritoras mais prolíficas dos Estados Unidos e que sempre figura nas listas de possíveis candidatos ao Nobel, busca inspiração numa história de quase meio século para falar do presente.

TRAILER DE "FOXFIRE - CONFISSÕES DE UMA GANGUE DE GAROTAS"

O cineasta francês Laurent Cantet (ganhador da Palma de Ouro em 2008, por "Entre os Muros da Escola") leva o romance de forma bastante fiel para o cinema, e, evidentemente, em tempos de Pussy Riot e Femen tem algo a ressoar - a busca pelo despertar da apatia e de uma nova consciência social das políticas de gênero.

Ao centro, como indica o título, está uma gangue de garotas que decidem viver as suas vidas sem pais, namorados ou maridos opressores.

A experiência é narrada por Maddy (Katie Coseni, premiada no Festival de San Sebastian por esse trabalho), que ao longo da vida na irmandade Foxfire tomou notas, datilografou páginas em sua velha máquina de escrever, e, anos mais tarde, retoma seus apontamentos para contar a história definitiva do grupo.

A máquina de escrever é, no fundo, emblemática para o grupo, pois Maddy quase foi vítima de abuso sexual de um tio quando pediu o objeto para ele, não fosse a ação de suas amigas.

Legs (Raven Adamson) acaba se tornando líder da irmandade e depois de uma ação impensada, acaba presa. Quando sai da cadeia -renegada pelo pai, que nunca a ajudou- resolve alugar uma casa grande em Hammond, Nova York, para onde se mudam as amigas.

As garotas parecem viver uma experiência comunitária pré-hippie, na qual dividem tarefas e gastos. Quando o dinheiro aperta, dão pequenos golpes. Nada disso é suficiente - até que Legs pensa num plano para acabar com todos os seus problemas financeiros.

Cantet, que assina o roteiro com Robin Campillo (seu parceiro em outros filmes), se abstém de qualquer tipo de julgamento. Sua câmera é quase uma testemunha dos fatos, sem tomar partido ou julgar. Maddy olha para o passado para recriar a história das Foxfire e, agora mais madura, tem a chance de lançar um olhar mais crítico para a trajetória do grupo, mas isso vem da personagem e não do filme.

A história das garotas é complexa, repleta de nuances, paradoxos e contradições. Cantet encontrou um grupo de atrizes jovens e talentosas que são capazes de materializar o que há de humano nas garotas. É fácil entender o poder de persuasão de Legs, por exemplo, capaz de fazer pose de fragilidade com seus olhos azuis-acinzentados e suas ideias mirabolantes que, ao menos em princípio, parecem fazer muito sentido.

Em tempos de crise, econômica, espiritual e moral, Foxfire foi um refúgio para essas garotas. Mas à medida que o grupo passou a crescer, acabou, de certa forma, se desvirtuando de seus princípios, sem deixar de ser uma experiência diferente no tempo que as lutas do feminismo eram outras.

Um padre, veterano da 1° Guerra Mundial, com quem Legs e outras garotas discutem revolução e lutas sociais, alega que nos EUA não se podia falar de mais nada, a não ser de felicidade. Nesse sentido, é sintomático que o filme (uma produção francesa) fale de outras coisas além da felicidade.

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb