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"Família do Bagulho" faz sátira contida à sociedade norte-americana

Alysson Oliveira

Do Cineweb*

26/09/2013 09h46

Já dizia o escritor russo Liev Tolstói: "Todas as famílias felizes são iguais, as infelizes o são cada uma à sua maneira." Porém, os protagonistas da comédia norte-americana "Família do Barulho" subvertem esse conceito (veja onde ver o filme no Guia UOL). São felizes, mas não iguais -- especialmente porque não são uma família de verdade, apenas um grupo de pessoas marginalizadas pela sociedade que se une para levar do México aos Estados Unidos um carregamento de maconha.

David (Jason Sudeikis, de "Quero Matar meu Chefe") é um pequeno traficante, mas que vive bem de suas vendas e nem precisa de outro trabalho. Porém, quando sua mochila com seu dinheiro é roubada, ele não tem como pagar o seu chefe (Ed Helms), que lhe faz uma proposta: trazer o carregamento, a partir do que toda a dívida será perdoada e ainda receberá um pagamento. O problema para o protagonista é: como atravessar a vigiada fronteira sem ser pego?

A resposta aparece quando percebe o quanto as autoridades podem ser coniventes com uma van transportando uma família. Comodamente, ele tem as pessoas certas para o papel ao seu redor: seu jovem vizinho, Kenny (Will Poulter), jovem ingênuo e de bom coração, uma garota rebelde que mora na rua, Casey (Emma Roberts), e sua vizinha stripper que acabou de perder o emprego para uma menina mais jovem disposta a sair com os clientes, Rose (Jennifer Aniston, a eterna Rachel, de "Friends", o que, aliás, rende um dos melhores momentos do filme, nos créditos finais). Eles se transformam nos Millers.

TRAILER LEGENDADO DA COMÉDIA "FAMÍLIA DO BAGULHO"

A família que eles formam é o estereótipo da família de classe média dos EUA -alienada e entorpecida em sua comodidade. Talvez o quarteto realmente já seja essa família, mesmo separados- eles apenas não notaram isso. "Família do Bagulho" procura satirizar exatamente esse padrão familiar contemporâneo, mas não quer (ou nem pode) ir tão fundo, afinal é essa mesma família-padrão que vai ao cinema e rende lucros a Hollywood.

O diretor Rawson Marshall Thurber não vai até as últimas consequências e, no fundo, essa é a jornada que trará os "Millers" para o outro lado da lei -- é o processo de cooptação de um grupo de fracassados, segundo os padrões vigentes. Na viagem, eles conhecem Edie e Don Fitzgeral (Kathryn Hahne e Nick Offerman), que vivem com sua filha, Melissa (Molly Quinn), num trailer viajando pelos EUA.

Os Fitzgerald são o oposto dos "Millers" que conhecemos. Embora os novos amigos acreditem que os protagonistas sejam como eles, não bebem, não fumam, muito menos têm aventuras sexuais. Essa família satirizada em "Família do Bagulho", ao mesmo tempo, é a que emerge com seus valores intactos -- por mais questionável que seu eventual fundamentalismo possa ser.

*As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb