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"A Grande Noite" faz crítica à situação da Europa contemporânea

Alysson Oliveira

Do Cineweb*

23/01/2014 14h22

A dupla de diretores franceses Gustave de Kervern e Benoît Delépine (os mesmos de "Mamute") faz, novamente, em "A Grande Noite", uma sátira da situação socioeconômica da França, e por extensão, da Europa. O filme estreia nesta sexta-feira (24) nos cinemas.

Ao traçar o retrato de dois irmãos sem muita perspectiva de futuro, os cineastas miram no vazio existencial que tomou o continente, um dos reflexos da crise. O filme ganhou o prêmio especial do júri na mostra Un Certain Regard, no Festival de Cannes de 2012.

Benoît Poelvoorde ("Românticos Anônimos") é Not, sujeito para quem o punk nunca vai morrer, que leva uma vida desregrada e feliz. Com seu codinome tatuado na testa, com seus cabelos e roupas extravagantes, e seu cachorro sempre ao seu lado, vaga pelas ruas, dorme aonde pode, toma banho numa fonte de praça, e come quando pode.

Seu irmão, Jean-Pierre (Albert Dupontel, de "Irreversível"), leva uma vida certinha, tem um trabalho numa loja de colchões, mas nem por isso consegue pagar suas contas --as vendas andam mal. Por que, levando vidas tão diferentes, os dois irmãos, ainda assim, enfrentam as mesmas consequências?

Qualquer pessoa é dona do seu destino, mas sua existência não depende apenas de seu esforço --é preciso pensar nas condições históricas do momento. Para a dupla de diretores, que também assina o roteiro, esse contexto social é pesado e decisivo.

Os pais de Not e Jean-Pierre têm um restaurante especializado em batatas, num centro comercial, que mais parece abandonado pela falta de consumidores. A mãe (Brigitte Fontaine) é um tanto catatônica, sempre dizendo coisas sem muito sentido. O pai (Areski Belkacem), por mais esforçado que seja, também já não pode cuidar dos filhos.

Quando Jean-Pierre perde o emprego e sua vida começa a desmoronar, Not vê a chance de cooptá-lo para o seu lado, o da anarquia, de uma liberdade muito peculiar. Sem muita noção do que está acontecendo, o irmão que, até então andava na linha, se torna um rebelde disposto a detonar com o sistema pelas bordas.

Se, por um lado, a narrativa nem sempre é orgânica e os personagens nada simpáticos, o filme vale pelo o que os diretores têm a dizer.

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb