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Festival de Berlim relembra Seymour Hoffman, que planejava estar presente

Michael Roddy

De Berlim (Alemanha)

06/02/2014 21h06Atualizada em 06/02/2014 22h15

A morte do prestigiado ator norte-americano Philip Seymour Hoffman por uma aparente overdose de drogas entristeceu a abertura do 64º Festival de Cinema de Berlim nesta quinta-feira (6), que teve a estreia da comédia "The Grand Budapest Hotel", do diretor Wes Anderson.

O filme de Anderson, uma ficção histórica, tem Ralph Fiennes no papel de um famoso recepcionista que corteja viúvas loiras octogenárias em um hotel alpino de um imaginário país da Europa Central nos anos 1930.

O longa divertiu a plateia formada por jornalistas, mas não houve como escapar da ausência de Hoffman, cuja morte aos 46 anos no domingo, na cidade de Nova York, depois de uma aparente injeção de heroína, abalou o mundo do cinema.

Hoffman era esperado no famoso festival de Berlim para promover seu filme "God's Pocket", do Festival de Sundance. O presidente do júri, produtor cinematográfico e roteirista James Schamus, disse que Hoffman estará lá em espírito.

"Aquela notícia foi muito dura para todos nós", disse Schamus em uma entrevista coletiva na qual todos os membros do júri estavam presentes.

"Philip Seymour Hoffman estará aqui...e eu sei que muitos de seus amigos vão se reunir para recordá-lo. São lugares como Berlim que concedem um espaço para lembrar, lamentar e celebrar, e acho que vocês podem ficar sossegados porque ele estará aqui."

O filme de Anderson, com um elenco que inclui Ralph Fiennes, Bill Murray, F. Murray Abraham e a atriz inglesa Tilda Swinton, bem como o relativamente pouco conhecido jovem ator Tony Revolori, da Califórnia, e a atriz irlandesa Saoirse Ronan ("Reparação"), é um dos 23 na mostra, dos quais 20 estão sendo cotados para o Urso de Ouro, que será entregue em 15 de fevereiro.

Anderson fez uma série de comédias inusitadas, incluindo "Os Excêntricos Tenenbaums", "A Vida Marinha com Steve Zissou" e "Moonrise Kingdom". Ele disse que para este filme, rodado em um hotel alemão na fronteira tcheco-polonesa, se inspirou nas obras do romancista austríaco Stefan Zweig, que se tornou conhecido na Europa nos anos 1930 e 1940.

Quando um jornalista norte-americano perguntou quem era Zweig, Anderson disse: "Stefan Zweig não foi popular na América ou em inglês por vários anos, somente, principalmente, nos últimos oito anos ele voltou a ser publicado... mas eu acho que as pessoas na Europa ficam surpresa por não conhecermos esse autor".

"Eu li seu livro 'Coração Inquieto', que foi o primeiro dele que eu li vários anos atrás... embora nossa história não se baseie em nenhuma de suas histórias, há (no filme) algo como mecanismos e a atmosfera. Minha intenção era fazer a nossa versão de uma história de Zweig.'

Na entrevista também perguntaram a Anderson como ele conseguiu reunir um elenco tão notável, o que levou o ator e comediante Murray a dizer que ele agarrou a oportunidade porque "nos prometeram muitas horas e baixos salários".

Num tom mais sério, Murray disse ter participado de vários filmes de Anderson para "permitir que Wes viva esta vida mágica, maravilhosa onde esse sonho que escapa se torna realidade".

O filme se passa em Zubrowka, um pastiche de vários países da Europa Central, e envolve a herança de uma rica viúva, as intrigas em sua família, a ascensão de fascistas com um slogan do tipo suástica e, no núcleo do filme, a relação entre o personagem de Fiennes, Monsieur Gustave, e o de Revolori, como um carregador de malas de hotel chamado Zero.