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Como seu protagonista, novo filme dos irmãos Coen emperra com mais do mesmo

Neusa Barbosa

Do Cineweb, em São Paulo*

20/02/2014 16h31Atualizada em 20/02/2014 19h00

Vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes 2013 e indicado a dois Oscar técnicos --fotografia e mixagem de som-- "Inside Llewyn Davis - Balada de um Homem Comum" ao mesmo tempo que tem a marca autoral dos irmãos Etan e Joel Coen, seus roteiristas e diretores carregam consigo uma certa trava como a que compromete os sonhos de sucesso de seu protagonista. O filme estreia nesta sexta (21).

Retratando a trajetória para lá de acidentada de um cantor de música folk, talentoso mas fracassado, Llewyn Davis (o ótimo Oscar Isaac), os premiados realizadores parecem simplesmente estar trilhando o mesmo território já percorrido em sua filmografia, sem extrair desse solo fértil nenhum diamante novo. Ainda assim, é um filme muito bom de ver.

É uma história de época, ambientada no começo dos anos 1960, com boas atuações de um elenco repleto de habituês dos Coen, como John Goodman, e completado por novos integrantes: caso de Carey Mulligan (mostrando porque é atualmente uma das mais versáteis atrizes do mundo), Garrett Hedlund ("Na Estrada") e F. Murray Abraham (com uma única e definitiva cena).

Trailer de "Inside Llewyn Davis: Balada de um Homem Comum"

O cenário musical folk no Greenwich Village nova-iorquino antes do surgimento de Bob Dylan - que é representado rapidamente de um modo engraçado -, uma visão da família norte-americana (será que não é de toda família, que só muda de endereço?) e um olhar cínico sobre os relacionamentos amorosos embalam o contexto.

Tudo isso torna mais saboroso acompanhar as desventuras de Llewyn lutando por um lugar ao sol depois do suicídio de um parceiro, mas sem conseguir encontrar um modo de ser realmente vencedor - essa obsessão da América.

Um verdadeiro gato vira-lata na vida --um símbolo que, aliás, se torna literal, com a participação de dois bichanos no caminho atravancado do protagonista--, ele pode ser encarado como alguém imbuído de uma dignidade peculiar demais para seu próprio bem, o que dá à sua história um toque melancólico.

A melhor parte do filme é ver como o guatemalteco criado em Miami Oscar Isaac atua bem quando tem chance num filme bom --já tinha dado para notar com seu pequeno papel em "Drive", ao lado de Ryan Gosling. Aqui, ele se apropria de um personagem que facilmente cairia na caricatura, não fossem os Coen e ele mesmo os profissionais sutis que são.

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb