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Novo documentário explora matança de mineiros na África do Sul

Cena do documentário "Miners Shot Down", que explora os eventos que levaram ao chamado de "Massacre de Marikana", na África do Sul - Reprodução
Cena do documentário "Miners Shot Down", que explora os eventos que levaram ao chamado de "Massacre de Marikana", na África do Sul Imagem: Reprodução

Nomatter Ndebele

De Joanesburgo

06/05/2014 18h24

Foi como uma cena dos dias mais tenebrosos do apartheid: policiais sul-africanos abrindo fogo e matando 34 mineiros negros que exigiam um salário mínimo de uma rica empresa internacional.

Mas a matança nos arredores da mina de platina Marikana, da empresa Lonmin, aconteceu em 16 de agosto de 2012, quase duas décadas depois que a "Nação Arco-Íris" de Nelson Mandela trocou o governo de minoria branca por uma democracia multirracial.

O novo documentário "Miners Shot Down", do cineasta sul-africano Rehad Desai, explora os eventos que levaram ao que foi chamado de "Massacre de Marikana".

O filme tem um impacto especial atualmente, já que a maioria dos mineiros de platina está em greve por um salário mínimo de 12.500 rand (1.200 dólares) por mês há 15 semanas, e uma eleição geral será realizada na quarta-feira.

"O principal aqui, na verdade, é que 12.500 rand era o pedido formal", disse Desai à Reuters em uma exibição em Johanesburgo na quinta-feira passada, Dia do Trabalho e feriado na África do Sul.

"Mas o que ficou entalado na garganta desses mineiros foi o fato de serem privados de sua dignidade porque seus chefes não estavam preparados para conversar com eles como seres humanos".

O filme utiliza entrevistas com sobreviventes e usa vídeos dos disparos registrados pelo cinegrafista da Reuters Dinky Mkhize.

O documentário de Desai começa uma semana antes das mortes, depois que uma greve ilegal irrompeu nas operações da Lonmin, gerando uma espiral de violência.

O cinturão de platina da África do Sul estava mergulhado em um conflito brutal e ainda não encerrado entre a Associação de Mineiros e Sindicato da Construção (AMCU, na sigla em inglês) e o outrora todo-poderoso Sindicato Nacional de Mineiros (NUM, na sigla em inglês).

O filme mostra os trabalhadores tentando falar com os gerentes da mina e sendo rechaçados enquanto aumentava a violência, incluindo o assassinato de policiais e seguranças.

"A vida de uma pessoa negra é muito barata na África do Sul, eles vão nos matar", disse o presidente da AMCU, Joseph Mathunjwa, que lidera a atual greve de mineiros, em um depoimento gravado horas antes da matança.

Embora o pagamento e as condições tenham melhorado desde o fim do apartheid, muitos mineiros negros ainda sentem que não se beneficiam apropriadamente da riqueza mineral do país pelo trabalho duro e muitas vezes perigoso que realizam no subsolo.

O executivo-chefe da Lonmin, Ben Magara, pediu desculpas às famílias dos mineiros mortos de Marikana no ano passado em um evento que marcou o primeiro ano das mortes.

Desai disse que o seu sentimento de que a justiça não foi feita, já que uma comissão de investigação do acidente se arrasta, foi o principal motivo para produzir o filme de 80 minutos.

"Eu não podia ignorá-lo, era algo muito grande, demasiado dramático e perturbador para mim", disse ele.

"Eu tinha que fazer algo pelos mineiros. Senti que tinha que dar uma voz a eles. Se a autoridade ataca de forma tão brutal, os artistas têm que escolher um lado e indicar em qual lado estão", disse.